quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Todo desprezo à polícia

Abigail Pereira Aranha

Um exemplo da "espiritualização" que os conservadores fazem do mundo é dizer que os governos de esquerda estimulam o banditismo e glorificar a polícia do mesmo governo esquerdista, que devia reprimir os bandidos e proteger as pessoas honestas e faz o contrário. Uma coisa que as pessoas comuns perdem de vista é que ser bom e honesto não é um não-fazer. Uma coisa que os cristãos perdem de vista é que os acontecimentos no contexto humano se fazem de pessoas agindo no mundo real. Até alguns milagres bíblicos foram assim. Por exemplo, Moisés e Arão foram até o Faraó para tirar o povo de Israel do Egito e, antes de conseguirem, meteram um cajado no rio Nilo para transformar as águas em sangue. Então, o bem não reina quando só o mal age. Bom, eu sou ateia, isso me ajuda a ver e dizer isso melhor que o cristão típico.

Um policial típico é quem faz cumprir todas as leis como a que diz que os motoristas devem usar farol na rodovia durante o dia, leis feitas por deputados, senadores e vereadores que são militantes de esquerda ou tremem de medo da militância esquerdista. Não só isso, dado que um valor das polícias e das Forças Armadas é o respeito à hierarquia, o soldado típico é submisso, em última análise, a uma legião de apadrinhados, incompetentes, inconsequentes, estúpidos, covardes, bajuladores e corruptos. E eles também se submetem a uma série de picuinhas fora do expediente. Então, visto que eles têm todo o suporte para se lascarem quando enfrentarem criminosos de verdade, a intrepidez do policial típico é confiscar mercadoria de vendedores ambulantes, multar motoristas, ser coadjuvante de intrigas da militância de esquerda e acolher denúncias falsas de vadias. Nisso, eu me refiro ao policial honesto. Fazendo isso, os policiais honestos podem garantir o salário miserável e uma vida com menos turbulência; os policiais desonestos podem garantir um esquema de enriquecimento ilícito e fodas com as maiores vadias do pedaço.

O que mais faz a polícia ser digna de desprezo é que o cidadão honesto é praticamente o único que precisa temer a polícia. A polícia quer confiscar a arma do cidadão honesto e prendê-lo por porte ilegal de arma enquanto as taxas de homicídios só aumentam, os criminosos de verdade nem dão bola para a Campanha do Desarmamento e a própria polícia já começou a usar pistolas de choque. A polícia está autorizada pelo Supremo Tribunal de Justiça a aceitar como prova de estupro a mera palavra da vítima, dando à mulher o direito de calúnia e tirando do homem o direito de levar uma vida honesta em paz. Também é menos provável um homem ir para a cadeia por cometer um homicídio do que por dever pensão alimentícia. Mas é claro que os policiais se mobilizam. Para reclamar do salário.

Vou pegar um exemplo, para quem ainda não entendeu. Indiana Aríette foi chamada em outubro do ano passado para um depoimento no Congresso requerido por Jean Wyllys, um deputado aliado de Dilma Rousseff, sobre a página dela Faca na Caveira, que é de direita e militarista (http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2025032). Quantos dos mais de um milhão de seguidores da página dela no Facebook são militares? Houve alguma nota em qualquer veículo de qualquer polícia estadual sobre isso?

O policial e qualquer agente do Poder Judiciário é quem tem o papel de fazer as leis serem cumpridas. Então, um policial que está mais preocupado em controlar o que faz e o que diz dentro e fora do trabalho para garantir o seu posto na burocracia estatal é cúmplice, não herói. Por isso, caso não tenham notado, toda a oposição ao desastre político nacional brasileiro, inclusive na área de segurança pública, vem de pessoas comuns que se mobilizam, e toda a parte que cabe ao Poder Judiciário é crédito de indivíduos. Nas manifestações populares contra o governo Dilma Rousseff, mesmo com repúdio às instâncias superiores do Judiciário, vários participantes deram manifestações de apoio ao juiz Sérgio Moro; mesmo com repúdio à imprensa, vários participantes deram manifestações de admiração ao jornalista Olavo de Carvalho; até a classe política teve um político aparecendo e sendo aplaudido, o deputado federal Jair Bolsonaro; mas nem os defensores da intervenção militar citaram um nome de militar digno de nota.

Policiais, vocês fizeram greve por causa das falsas denúncias de crimes sexuais? Salário baixo, eu acho é pouco! Estupro: palavra da vítima vale como prova em crimes contra liberdade sexual (STJ Notícias). Universitária volta atrás, admite que não foi estuprada e é indiciada no Rio Grande do Sul (G1). Mentira de enteada deixa homem preso por cinco meses (Revista Consultor Jurídico).

Eu sugiro começarmos com manifestações anônimas como a minha, eu colei um cartaz na entrada de uma delegacia durante uma greve da Polícia Civil. Eu devo fazer mais cartazes com a frase "Salário baixo, eu acho é pouco". A ideia do anonimato (no meu caso, quase anonimato, como vocês verão na foto) não é fugir de retaliação, é tentar passar para a polícia que o medo da população ordeira é a última coisa que ela tem e até isso ela está perdendo. Vamos nos lembrar de que os policiais são chamados de fascistas e assassinos, e termos do tipo, por arruaceiros vagabundos da militância esquerdista e ficam quietos.

Três milhões de pessoas sem experiência em militância fazendo passeatas nas ruas em centenas de cidades em março deste ano, depois de dois anos seguidos de retração econômica, escândalos políticos e deterioração da segurança pública, fazem a polícia imperdoável. E como ficou mostrado quando um avião da Força Aérea Brasileira foi dispersar a greve dos caminhoneiros contra o governo Dilma em Tocantins, quem começa a luta contra o erro como covarde chega ao meio como omisso e pode acabar como cúmplice. Se os bandidos não têm e nem precisam ter medo dos policiais, eles devem receber o mesmo desprezo que qualquer funcionário público medíocre merece. Porque é isso que eles são. Pregar contra a esquerda e cultuar a polícia e as Forças Armadas é nostalgia de trisnetos de latifundiários da República Velha.

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