quinta-feira, 30 de abril de 2009

Relações conjugais

"Sou casada há 12 anos e vivo infeliz. Meu marido é violento, grosseiro, autoritário, me trata muito mal. Sou infeliz, mas não consigo me separar. Por quê?"

Lídia, de Belo Horizonte

O grande objetivo de nossa vida é ser feliz. Isso significa estar em paz, em estado de prazer na maior parte do tempo. Nossas relações só fazem sentido se nos ajudarem nesse caminho. E o casamento, principalmente, tem um papel essencial na construção de nossa alegria. Afinal de contas, é com o companheiro que passamos a maior parte do tempo, dividimos com ele nossas intimidades boas ou ruins, partilhamos com ele nossas virtudes e defeitos. Porém, o casamento deve nos proporcionar um espaço de folga para crescermos, desenvolver nossas aptidões, sobretudo emocionais, e facilitar nossa travessia para as dificuldades da vida.

Infelizmente, tem sido, na maioria, lugar de sofrimento, competição, hostilidade, violências físicas e psicológicas. Tem estado mais para um ringue do que para um salão de festa. Mais para a luta do que para a dança. Essa é a queixa da leitora.

Quando, portanto, a relação conjugal se torna fonte de sofrimentos contínuos é hora de repensá-la. Muitas pessoas não sabem quando é tempo de desistir de uma relação. Outros não sabem se a relação ainda tem futuro. Muitas mensagens gravadas no inconsciente coletivo favorecem essas dúvidas: "O casamento é para sempre", "Mas vocês eram tão felizes no início", "Até que a morte os separe".

Neste caso, a leitora quer se separar, mas afirma não conseguir. Na verdade, não consigo é sinônimo de não quero. Racionalmente, ela quer. Ela está dividida e, com isso, ainda aumenta mais sua dor e angústia. Ela ainda pergunta. Por quê? Diante de uma situação semelhante, temos duas possibilidades. Tentar salvar o casamento ou então desistir dele. Acredito que sempre é importante tentar reconstruir uma relação que, em um momento anterior, foi escolhida pelos dois. Por pior que seja, qualquer relação tem a possibilidade de ser revista, analisada e melhorada. Para isso, existem algumas condições. Que o desejo de salvar o casamento seja dos dois. E que ambos aceitem buscar alternativas reais para superar os comportamentos de ambos, responsáveis pelo que foi feito da relação.

Um processo de terapia do casal seria uma alternativa, por exemplo. Se não houver mudanças significativas em cada um e, por consequência, na relação, continuar o casamento, além de perda de tempo, é também uma perda de vida emocional, pois o sofrimento e a violência tendem a aumentar cada vez mais. E por que é tão difícil se separar de relações infelizes? Medo. Medo de sofrerem mais ainda ao desistir do casamento. Medo das críticas, principalmente dos familiares, que, quase sempre, não estão nem aí se o casal está feliz ou não, interessando-lhes apenas a manutenção quantitativa do matrimônio. Medo de se sentirem culpados, e, sobretudo, medo da solidão.

A maioria de nós aprendeu que, se tiver alguém como parceiro, será automaticamente feliz. Que o namoro, o casamento em si nos levará necessariamente à felicidade. E isso não é verdade. O que nos ajuda a sermos felizes são relações alegres, motivadoras, respeitosas, na base da admiração e companheirismo. Partindo de um pressuposto falso, a maioria dos casais gasta muita energia para conservar e manter o casamento, ainda que infeliz. Daí o medo da solidão. Preservar a relação a qualquer preço passa a ser o único propósito, acompanhado da fantasia de que, com o tempo, mudará o parceiro, por meio de brigas, ameaças e exigências.

Já vimos que a separação não é a primeira nem a única saída para relações sofridas e infelizes. Se ainda há afeto e admiração, apesar das dificuldades e inadequações, a relação pode e deve ser tratada, vale a pena tentar caminhos novos de aprendizado e mudança. O quenão vale é acostumar-se com o sofrimento e, a partir de uma excessiva autoproteção, perpetuar-se em relações adoecidas e neuróticas.

Há uma grande diferença entre a paciência e a persistência. Sermos pacientes com um casamento infeliz significa colocarmos o tempo como aliado, não nos precipitarmos, mas estarmos profundamente ativos na busca de soluções, aprendendo com os próprios erros, pedindo ajuda externa, querendo, na prática, desenvolver mudanças. A persistência, ao contrário, é uma forma de teimosia. Por medo do desconhecido, insistimos na crença de que o tempo se encarregará de resolver relações esgotadas, mesmo mantendo formas fracassadas para se relacionar. Nesse caso, é muito comum o casal apelar para fatores externos, mudar de casa, ter um filho, fazer regime, comprar um carro novo, viajar, em vez de mudar a própria relação. É a onipotência de querer mudar o casamento sem mudar nada.

Toda tentativa de salvar o casamento é válida. Só não vale viver morrendo em nome de um amor que acabou e fechar o coração para novas oportunidades de vida. Estamos na vida para sermos felizes ou para estarmos casados?

Antônio Roberto. "Relações conjugais", Estado de Minas, Belo Horizonte, 01 de fevereiro de 2009, caderno Bem Viver, pág. 2.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Alexandre Vogler: obras de arte difíceis de mostrar ao povo (mesmo que questionem o "sistema")

Abigail Pereira Aranha

Parte I - "Base para Unhas Fracas", sobre o corpo feminino como instrumento publicitário, enfrenta o velho horror ao sexo
A obra
Discute-se, neste trabalho, a utilização do corpo feminino como grande fetiche para vender marcas diversas. Um exemplo bem definido por todos são da maioria das marcas de cerveja, onde as expõem em maior grau.
Segundo Vogler, "se a mulher é usada por todas as campanhas, eu ponho o conteúdo sexista dessas mensagens no grau mais avançado. Poderia usar uma imagem mais tolerável, mas seria chover no molhado". Ele, ao mesmo tempo em que esconde, deixa à mostra partes de um órgão que, segundo as regras da moral e da boa conduta, não devem ser mostradas. (Pedro Alonso, "A intermedialidade no trabalho de Alexandre Vogler e a arte da performance", Ensaio crítico, 4 de julho de 2008, http://ensaioscriticos.blogspot.com/2008/07/intermedialidade-no-trabalho-de_04.html)
Cartaz de genitália causa revolta e é rasgado no Prado
Artista carioca quer que pessoas pensem sobre uso da imagem da mulher
Carolina Coutinho
A obra de arte do pintor carioca Alexandre Vogler, intitulada "Base para Unhas Fracas", que estampa a genitália feminina em 30 muros de Belo Horizonte, não causou só polêmica, mas também revoltou pessoas que se depararam com ela na rua. A imagem mostra a genitália parcialmente coberta pelas mãos da mulher casada com unhas pintadas de vermelho. No Prado, região Oeste da capital, a figura, afixada na quarta-feira numa avenida de grande movimento, foi rasgada no meio na manhã de ontem. A atitude provocou tristeza em uns e alegria em outros, ou melhor, outras. O autor da depredação permanece desconhecido. "Fiquei chateado por terem rasgado o cartaz. Daqui da minha mesa de trabalho eu olhava para a imagem várias vezes por dia. Se eu tivesse visto que a pessoa ia rasgar, teria corrido até lá e impedido", disse o gerente de vendas Luciano Caldeira dos Santos, 33. Para a vendedora Érica Baessa, 24, o estrago demorou para acontecer.
"Achei vulgar e absurda a foto desse cartaz. Não sei direito do que se trata, se é mesmo uma propaganda de esmalte, mas acho um desrespeito com as pessoas, principalmente as mulheres, crianças e idosas", disse indignada. Segundo o autor da obra, a intenção era mesmo chamar a atenção. Vogler explicou a figura como sendo uma forma de protesto contra o uso da imagem da mulher em campanhas publicitárias. "As pessoas não percebem que a mulher é tratada como objeto nas propagandas. Elas são usadas para atrair o consumidor e são expostas de maneira pejorativa. Quero que as pessoas reflitam", disse. Ele manipulou digitalmente a imagem.
Alguns gostam...
"O cartaz chamou a atenção de todas as pessoas que passam por aqui. Eu achei bonito e ao mesmo tempo um pouco agressivo."
Alan David da Silva, 23 vendedor
outros não
"Tenho uma filha pequena e não gostaria que ela visse. Trabalho com muitos homens e é constrangedor ouvir falar desse assunto."
érica baessa, 24 vendedora
"Cartaz de genitália causa revolta e é rasgado no Prado", O Tempo, Belo Horizonte, 15 de novembro de 2008, http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=1113&IdCanal=6&IdSubCanal=&IdNoticia=95880&IdTipoNoticia=1.
Mais reações
No momento em que posava para fotos em frente à sua criação, uma senhora – que mora num apartamento em frente ao malfadado muro – aparece à janela do prédio e reclama daquela imagem profana a qual terá que se deparar todos os dias. Em discussão com Alexandre – este tenta em vão convencer à moradora de que a provocação faz parte do processo de sua obra – ela sentencia e afirma categoricamente que ele precisava estudar arte, abominando sua criação. (Pedro Alonso. Texto citado)
Segundo Alexandre Vogler, a interferência do público à sua obra se faz sentir pela negatividade de sua recepção, pois as imagens das vaginas coladas e espalhadas pela cidade são rasgadas e, segundo a matéria, alguns profissionais que colavam nos muros os cartazes já foram ameaçados pela polícia. (idem)
Uma cópia arrancada em Belo Horizonte já foi mostrada. Mais uma, no Rio de Janeiro: http://melkzda.blogspot.com/2008/06/base-para-unhas-fracas.html.
Parte II - Um tridente, símbolo de Netuno, mas que para os cristãos é outra coisa...
Entre a cruz e o tridente
Símbolo pintado no cruzeiro é criticado por moradores e religiosos e prefeitura tenta apagar
Helvio Lessa
A figura de um tridente pintado na encosta da Serra do Vulcão, logo atrás do Mirante do Cruzeiro, causou ontem polêmica entre moradores e religiosos de Nova Iguaçu. Muita gente ficou revoltada e acusava a prefeitura de desrespeito às religiões. O desenho fez parte de oficina de arte pública, no Projeto Interferências Urbanas, evento promovido pelo município semana passada.
"Isso é coisa do mal, do demônio. Uma afronta a um símbolo de Jesus e com a permissão da prefeitura. Subiram aqui com o pretexto de fazer arte e foram embora deixando esse símbolo do mal", disse a evangélica Edileide Amaro, 31 anos.
O prefeito Lindberg Farias (PT), no entanto, alega que o artista plástico Alexandre Vogler, responsável pela oficina, não tinha permissão para colocar o símbolo, que segundo ele é ligado diretamente ao diabo.
"Quando soube que tinha sido desenhado um tridente mandei retirar imediatamente. Ele tinha combinado de escrever "Eu amo Nova Iguaçu". Mas acabou colocando esse símbolo que afronta a cruz. Desde pequeno que vejo a figura do diabo com tridente na mão. Moramos numa cidade de Deus", justificou Lindberg.
Censura
O artista Alexandre Vogler, 32 anos, disse que a idéia do tridente está ligada ao deus Netuno, da mitologia grega e que não teve a intenção de afrontar qualquer religião. Alexandre afirmou que, depois que a pintura estava pronta, passou a ver uma possível relação do tridente com o símbolo de religiões afro-brasileiras.
"Não esperava toda essa polêmica. Considero a atitude da prefeitura uma censura à produção artística. A intenção da arte é provocar reflexão. Mas também acredito que levantou questões religiosas, que deveriam ser encaradas de maneira democrática", disse.
Segundo Alexandre Vogler, o poder público não costuma ter a mesma postura em relação a outras inscrições religiosas que estão espalhadas pela cidade. "Não esperava que minha arte fosse provocar esse tipo de retaliação pela prefeitura", acrescentou o artista.
Ponto tradicional da cidade
A cruz no alto da Serra de Madureira é um marco na cidade e pode ser visto de vários pontos. Fiéis de várias religiões usam o local para orações e eventos. O Mirante do Cruzeiro palco tradicional de uma superprodução da Via Sacra na Semana Santa, realizada todo ano, envolvendo centena de artistas.
O local, que chegou a ter iluminação especial com cores diferentes a estação do ano, segundo os moradores, agora se encontra abandonado. "Nunca aparecem aqui para tratar do problema da falta de água e da pavimentação da ladeira de acesso ao cruzeiro. Mas para fazer essa afronta arrumaram tempo", reclamou o vigilante Paulo Furtado, 45.
Arte e religião causaram polêmica em 2002, com a exposição de orixás na Lagoa, e em 2000, com a escultura de Exu dos Ventos, na entrada da Linha Amarela.
Helvio Lessa, "Entre a cruz e o tridente", O Dia, Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2006, pág. 4.
Oração no lugar do tridente
Prefeitura defaz símbolo associado ao mal pintado em cruzeiro e promove ato ecumênico
Helvio Lessa
O prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), vai subir hoje a encosta da Serra do Vulcão, acompanhado de 20 padres e pastores para fazer um ato ecumênico no local onde, no fim de semana, foi pintado um tridente.
Lindberg acredita que essa é a melhor forma de tentar minimizar a polêmica que tomou conta da cidade e de provar que não tinha conhecimento do teor da obra, feita durante evento cultural da Funarte que contou com apoio da prefeitura.
Além de promover o ato religioso, o prefeito afirmou que vai processar o artista plástico Alexandre Vogler, que fez o tridente que provocou confusão na cidade.
"Ele não podia fazer aquilo. Estou convencido de que ele quis criar uma polêmica. O povo está revoltado. Esse Alexandre Vogler não estava autorizado por ninguém para pintar aquele tridente. Ele quis fazer uma afronta", disse Lindberg.
Dificuldade para apagar
Cerca de 40 funcionários da prefeitura passaram dois dias na encosta tentando apagar o tridente. Até enxada foi usada. Mas como a pintura feita na pedra e na vegetação não desaparecia por completo, a solução encontrada foi estender algumas linhas com cal para mudar o formato do desenho. Com isso, a imagem que pode ser vista de vários pontos da cidade é um enorme quadrado mal feito.
A intenção do prefeito é convocar outros artistas para desenhar uma nova obra. "Vamos nos reunir para decidir se será pintada uma grande cruz no local ou se colocaremos apenas a inscrição 'Nova Iguaçu está sob a proteção de Deus' na pedra", disse o prefeito.
O artista plástico Alexandre Vogler rebateu as acusações do prefeito e disse que Lindberg não tem elementos para mover um processo. Apesar de acreditar na liberdade de expressão de qualquer religião, Vogler voltou a dizer que o tridente é uma referência ao deus Netuno.
Segundo ele, o desenho era do conhecimento dos organizadores do evento e só surgiu devido à redução da verba prevista. "Era para ser colocada a inscrição "Eu amo Nova Iguaçu", com gambiarras. Mas a verba não foi suficiente para o que foi planejado", justificou.
Ambientalista denuncia risco ecológico
Ambientalistas de Nova Iguaçu pretendem responsabilizar tanto o prefeito quanto o artista plástico pelos possíveis danos ambientais provocados pela cal no local onde foi pintado o tridente.
Segundo o ativista Ricardo Portugal, da ONG Defensores do Gericinó, Mendanha e Tinguá (Dangemt) será feita uma representação no MP para apurar as responsabilidades.
"Além de tornar a terra infértil, a cal vai atingir o lençol freático. Pode ter um dano irreparável", justificou Ricardo. Moradores também temem que a pequena mina de água atrás do cruzeiro seja contaminada.
Lindberg, no entanto, disse que a informação é equivocada e que os técnicos da prefeitura afirmam que a cal não é prejudicial. "Ao contrário, serve como corretivo do solo", explicou.
Apesar disso, o prefeito garante que a alteração do desenho não será feita com cal. "Ainda estamos estudando qual o material a ser usado para corrigir o desenho", acrescentou Lindberg.
Helvio Lessa, "Oração no lugar do tridente", O Dia, Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2006, pág. 4.
Religiosos contra tridente
Prefeito, padres e pastores oram no cruzeiro onde símbolo foi pintado. Cruz de plantas será feita
Marcos Galvão
"Feliz o homem que não toma o partido dos maus". Com base no Salmo 1, da Bíblia, foi feita a oração por cerca de 40 pastores e padres para marcar a retirada do tridente, figura pintada pelo artista plástico Alexandre Vogler acima do cruzeiro, símbolo tradicional cristão de Nova Iguaçu.
O prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), que pretende processar o artista, acompanhou a escalada de quase 100 metros do cruzeiro até o ponto onde o tridente foi pintado. "Faremos uma cruz com plantas, que será iluminada, para todos entenderem que sou do bem", explicou o prefeito.
A subida íngreme deixou pastores e padres ofegantes, mas não diminuiu o entusiasmo do grupo, que rezou à oração do Pai-Noss, benzeu o local onde o artista desenhou o tridente, já apagado, e entoou um hino evangélico, com o auxílio de uma banda de música.
"Essa terra é de Jesus. Aqui não entra o mal", disse o pastor João Nunes, da Assembléia de Deus de Nova Iguaçu, que ficou indignado com a imagem do tridente. "Estamos unidos a favor do bem", disse o padre Davenir Andrade, da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima e São Jorge. Ao final das celebrações, pastores fizeram uma oração pelo prefeito.
Manifestação
Ao chegar ao Morro do Cruzeiro, Lindberg foi recebido por moradores da comunidade que cobraram melhorias. Ele disse que não vai asfaltar o acesso ao cruzeiro para não atrair a construção desordenada de moradias.
"Só asfaltarei ruas até o Marco 100", disse ele, se referindo ao espaço de 100 metros delimitado pela prefeitura da Estrada de Madureira em direção ao morro. O cruzeiro fica a 200 metros de altura e já tem, segundo a prefeitura, 150 casas irregulares. O prefeito prometeu reflorestar o morro a partir de setembro.
Mudas de coroas-de-cristo
Uma cruz feita com plantas será feita no lugar do tridente do artista plástico Alexandre Vogler. Ontem, funcionários da prefeitura começaram o plantio de duas mil mudas de coroas-de-cristo. "Aproveitaremos a cal e faremos com as plantas o desenho de uma cruz", explicou o secretário municipal da cidade, Hélio Aleixo.
O diretor de Artes Visuais da Funarte, Xico Chaves, disse que o artista não cumpriu o previsto na programação feita pela fundação, em parceria com a prefeitura, no projeto Interferências Urbanas, realizado na semana passada. Segundo o programa, o artista deveria pintar 'I love Nova Iguaçu' (eu amo Nova Iguaçu, em inglês), com um coração no lugar da palavra 'love'.
Marcos Galvão, "Religiosos contra tridente", O Dia, Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2006, pág. 12.
Parte III - Conclusão
Um cristão tem mal-estar ao ver uma obra como "Base para Unhas Fracas", qualquer alusão ao sexo ou, em alguns casos, qualquer perna de fora ou foto de mulher amamentando (veja http://br.noticias.yahoo.com/s/reuters/081230/entretenimento/cultura_comportamento_facebook_amamenta).
O próprio Alexandre fala sobre "Base para Unhas Fracas" em um texto intitulado "Contexto 'Base para Unhas Fracas': Cidade, paisagem, mídia externa", disponível no blog Ensaio Crítico em http://ensaioscriticos.blogspot.com/2008/07/contexto-base-para-unhas-fracas-cidade.html.
É grosseira a ignorância de quem pensa que um tridente é símbolo do Diabo e, portanto, do mal. Esse estereótipo não tem sustentação nem na própria Bíblia.
O símbolo de Netuno pode ser conferido em http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADmbolo_astron%C3%B4mico. E os conhecedores do Satanismo sabem que Netuno não é um dos nomes infernais.
E eis que aparece alguém da ala verde, falando de cal contaminar a água. O ambientalismo é um campo onde meia dúzia de profissionais e ativistas sinceros convivem com uma maioria da qual os doutores são cientistas medíocres ou venais e os leigos são massa de manobra de uma canalhice colonialista. Mas essa é outra discussão.
Ah, e a base da obra foi criticar o uso da figura da mulher na publicidade, portanto, um fundo anticapitalista e feminista. Mas quem menos gostou da obra foram... mulheres do povo. Assim fica difícil.
As obras de Alexandre Vogler podem ser vistas em http://www.alexandrevogler.com. Um destaque para o seu balão Olho Grande, lançado no dia 7 de Setembro de 2002, mesmo dia do lançamento do dirigível "Olho no céu" (Zepelim controlado pela Secretaria de Segurança e criado pela governadora do Estado do Rio de Janeiro para monitorar áreas de risco).
Mas o ponto principal aqui é como a liberdade de expressão é falaciosa, se não abertamente inexistente, onde a religião e a ignorância predominam, sempre excitando (no mau sentido) algum grupo de exaltados quando o seu modo de pensar e de viver é contrariado. Que incidentes como estes sirvam de lição àqueles que pregam o respeito à religião: os religiosos querem liberdade para se expressar e viver conforme suas crenças e convicções, mas nem sempre aceitam o mesmo para os outros.

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