quarta-feira, 29 de julho de 2009

E se uma irmã ou filha sua estivesse numa revista pornô?

Abigail Pereira Aranha
Eu gosto de pornografia (a normal, claro), eu defendo e pratico o sexo sem relacionamento estável (não o casual) e defendo o casamento aberto. Mas e se em uma revista, uma foto ou um vídeo pornográfico estivesse uma filha ou irmã minha? Ou se eu descobrisse que o trabalho dela, que ela dizia ser outro, fosse como prostituta ou stripper? Ou se ela mesma me dissesse que faria um material pornográfico ou um trabalho sexual? Antes de dar a minha resposta, vou fazer algumas considerações. E vou fazer de conta que eu sou uma senhora de uns 40 anos (eu só tenho 18) e nunca vivi na putaria.
Alguns homens gostam de "pegação" e de materiais "impróprios para menores", mas acreditam que as moças da família deles são diferentes. Muitas pessoas se acham com mais direitos que o resto da humanidade. É o caso do homem "caçador", que acha que merece transar com todas as mulheres atraentes que puder encontrar, ou ver os corpos delas sempre que conseguir. E esse mesmo "caçador" das filhas e irmãs de outros homens é "protetor" das dele. Então, quando a filha ou irmã transa com o namorado... o caso é diferente, a moça é da família dele, é pra casar. Qualquer conversa dela com um homem, o "caçador" tem medo de que a fêmea da casa dele seja a caça de alguém. Mas nós também temos uma visão diferente dos nossos pais, dos nossos irmãos e dos nossos filhos, nem sempre os vemos como indivíduos com uma individualidade, como o resto da humanidade.
Alguns homens gostam de pornografia, mas dividem as mulheres em mulheres que têm valor e mulheres que não têm valor, valor esse na contramão de sua vida sexual. E esperam que as mulheres da família deles estejam no primeiro grupo. Isso é contraditório. Se todas as mulheres fossem liberais, esses homens protestariam contra a falta da moral e dos bons costumes. Se todas as mulheres fossem puritanas, e seus maridos "machistas", eles dificilmente veriam ou conversariam com uma mulher que não fosse da família ou sua esposa. E esse "machão" é "protetor" das suas filhas e irmãs.
E há os homens que ligam a relação entre homem e mulher a um relacionamento estável e não gostam de pornografia. Isso se chama puritanismo. Isso não é exatamente respeito à mulher e disciplina do desejo sexual, o que é bom e eu também tenho (sério). Isso é repressão sexual, mesmo quando não chega a neurose. Esses homens têm um conceito do sexo altamente negativo. Não disse o apóstolo Paulo que "bom seria que o homem não tocasse em mulher" (1Co 7: 1)? Se o sexo é admitido dentro do casamento, é porque só a pureza da instituição do casamento supera, ou chega perto de superar, a imundice da prática e do desejo sexuais.
Vamos supor que demonstrar gosto pelo sexo ou uma desinibição em relação ao corpo seja a maior mácula moral para uma mulher. As mulheres que aparecem na pornografia são a maioria mulheres "comuns" do dia-a-dia. Veja bem: não são ninfomaníacas que se passam por mulheres "decentes", mas mulheres como a vizinha ou a balconista. Muitas fazem esses materiais uma vez só e pelo dinheiro que é pago. Para citar um exemplo, Rita Cadillac fez alguns vídeos pornôs pelo dinheiro, mas parece não ter gostado muito da experiência.1
Agora, vamos voltar àquelas perguntas. E se uma filha ou irmã minha estivesse num material pornográfico e eu descobrisse por acaso? Não deixaria de ser uma surpresa, mas nada de indignação. E se ela dissesse antes que estaria nesse material? Talvez eu faria algumas perguntas e veria o material depois. Em ambos os casos, eu poderia gostar ou não conforme o material em particular. Por exemplo, se for uma cena lésbica, argh, mas se for uma cena dela com 3 rapazes de uma vez bem torneados e de pau grande, vou querer ser a próxima. E nós não mostraríamos isso a todos os meus parentes, amigos e conhecidos porque nem todos teriam a mesma evolução mental que nós. E se ela fosse prostituta ou stripper e eu descobrisse por acaso, ou se ela mesma me dissesse que entraria em um desses trabalhos? Eu teria preocupação com ela estar, eventualmente, com homens que não respeitam uma mulher nessa posição, que podem incluir o vizinho carola que proíbe a filha de usar batom. É isso. Ver a filha ou a irmã numa revista pornográfica ou trabalhando como prostituta não seria o fim do mundo pra mim. E pra você?
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1 "Rita comentou sobre os filmes pornográficos que protagonizou. 'Fiz por necessidade, precisava de dinheiro. Mas valeu para ver que aquilo não era o que queria para mim'." ("O gingado de uma ex-chacrete poderosa", Super Notícia, 15 de janeiro de 2009. Disponível em <http://www.otempo.com.br/supernoticia/noticias/?IdNoticia=22238>. Seção Variedades.)
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