segunda-feira, 13 de abril de 2020

O coronavírus e a doença mental brasileira: e os 2 mil mortos que os inimigos de Bolsonaro prometeram?

Abigail Pereira Aranha

The Intercept, 24 de março de 2020: "Exclusivo: Abin fala em 5,5 mil mortes em 15 dias enquanto Bolsonaro chama coronavírus de histeria"[1]. Um pedacinho:

Colapso nas UTIs em 15 dias

A Abin preparou uma projeção da demanda por leitos de UTI em duas semanas caso a curva da epidemia no Brasil seja semelhante à de Irã, Itália e China. Nesse caso, a Abin avalia que 10.385 leitos – ou 17,4% dos quase 60 mil disponíveis no país – estarão ocupados por doentes com casos graves de covid-19. (...)

Mais de 5 mil mortos e 200 mil casos

A mesma curva de progressão – a de China, Itália e Irã – é usada para projetar a mortalidade da doença daqui a duas semanas. Se o coronavírus se propagar aqui com a mesma velocidade com que se espalhou por China, Itália e Irã, o Brasil chegará a 6 de abril com 5.571 mortos e 207.435 casos da doença.

Um segundo cenário, menos sombrio, mas também menos provável, também é traçado pela Abin. Nesse caso, a epidemia no Brasil cresceria às mesmas taxas observadas na França e na Alemanha – países cujos líderes tomaram medidas duras contra o coronavírus, em vez de menosprezá-lo e agir para atrapalhar iniciativas de governadores e prefeitos.

Ainda assim, chegaríamos a 6 de abril com a covid-19 matando 2.062 pessoas.

Seção Coronavírus do G1, não do dia 06, mas do dia 13 de abril[2]:

Casos de coronavírus no Brasil em 13 de abril

Secretarias estaduais de saúde contabilizam 22.318 infectados em todos os estados e 1.230 mortos.


Bom, se você é uma pessoa com certa integridade mental, você já percebeu: a tragédia que foi prevista não veio. Acabou aí? Não, ainda tenho outros problemas que eu gostaria de chamar a sua atenção pra eles, mas eu preciso antes fazer algumas observações que você até pode ter feito também. O número de mortos era metade da previsão mais otimista uma semana depois, sem as tais "medidas duras". Sim, você já deve ter ouvido tanto nos noticiários quanto nas conversas dos idiotas à sua volta que "o povo não está levando a sério a quarentena". Sim, "quarentena", termo que significa isolamento de pessoas doentes; mas os brasileiros comuns, que são idiotas, subalfabetizados, mentalmente preguiçosos e com horror à inteligência, usam esse termo para o que só agora começou a ser chamado, corretamente, de "confinamento" ou "isolamento social", de pessoas sem a doença em questão. Esse último comentário parece raiva descontrolada e ofensa barata, mas não é, e tem a ver com o que eu vou abordar daqui a pouco.

Ainda antes, vamos lembrar o que disse Olavo de Carvalho ainda em 2018: "A pessoa normal gradua a intensidade do medo pelo tamanho do perigo real. O histérico avalia o perigo pelo tamanho do medo que sente."[3]

Agora, sim, entro na questão a que eu chamo a sua atenção e eu começo com uma ilustração rápida: você já perguntou a algum brasileiro médio se ele sabe a diferença entre CoViD-19 e gripe comum?[4] Se você fizer isso, você pode ouvir que você é apoiador do Bolsonaro, que o coronavírus está matando aos milhares, que você mesmo merece morrer, etc. Como a resposta que eu recebi quando fiz essa pergunta.[5]. Mas a pessoa não vai dar a resposta não digo certa, mas sequer do gênero da pergunta. Porque essa pessoa mesma não sabe. Quer dizer que essa pessoa, mesmo ouvindo um monte de notícias e informações a respeito, fala um termo que não sabe o que significa? Sim. Mas como?

Quando uma pessoa despreza ou odeia a verdade e a grandeza de espírito, ela se afunda não na mentira, mas na perda de integração com a realidade. Porque a verdade é bloqueada por essa pessoa até o ponto de se tornar acima da sua capacidade intelectual e psicológica. E por essa pessoa perder a capacidade de conhecer e reconhecer a verdade, sua fala perde a humanidade e a capacidade de ser descritiva. Bom, quanto a capacidade da fala (ou da escrita, ou até do desenho) de ser descritiva, isso é no sentido de poder representar e descrever muito além do entorno muito limitado e de uma vida maçante, em geral planos de fundo de um cotidiano limitado a vaidades pessoais ou, mais limitado ainda, a pouco mais que uma sobrevivência pobre. Um exemplo físico disso, mais antigo, era uma região miserável do estado ou do país onde os pobres abominavam a escolaridade e hostilizavam, sendo católicos, as pessoas evangélicas; mas tinham habilidades notáveis em fazer produtos com matéria-prima local e conheciam, tanto por nome quanto por observação, centenas de plantas, árvores e animais da região. Uma coisa parecida aconteceu depois, ironicamente, na outra ponta da escala de escolaridade e de riqueza: as universidades das grandes cidades. Por exemplo, tanto estudantes quanto professores podem fazer seminários, artigos e até livros sobre como os negros são vítimas do chamado racismo, dizendo de passagem como palavras como "denegrir" são maldosas e como é discriminatório, mesmo que estatisticamente plausível, que os personagens negros de uma novela sejam empregados de ocupações com menores salários; enquanto isso, alguns poucos negros e pardos de bairros pobres não veem problema algum em parecer civilizado, ouvir um rock de uma banda estadunidense, entender a letra da música por saber inglês, ir pra escola pra estudar de verdade, trabalhar decentemente em um emprego honesto e nunca ter tido vontade de cometer latrocínio.

E falando em linguagem sem capacidade descritiva, eu estou em um grupo de discussão no Facebook que se diz de ateus, mas é de esquerdistas anticristãos, e agora que esse assunto do coronavírus está sendo muito discutido lá também, os que se dizem ateus não me chamam só de "bolsominion" (que não é um termo descritivo). Alguns dizem até que eu estou carente de sexo. E outros que viram na minha imagem de capa #SouPutaEVotoJairBolsonaro disseram que eu vou ser muito mal tratada no meio conservador. Ah, pra quem não viu a minha lista de amigos, poucos são ateus.

Para quem perde o apreço pela verdade e a integração com a realidade, a Falácia do Apelo à Autoridade é espontânea. Porque o valor vem de ícones de valor comparável ao que, para o justo, é o valor da verdade e da grandeza de espírito. Os ícones podem tanto ser físicos, como um campus universitário, quanto coisas imateriais com alguma presença no mundo físico, como a ideologia de esquerda ou o que é chamado de Cristianismo ou de ciência. Não é razoável para a pessoa sem integração com a realidade que algo vindo, por exemplo, de alguém que se anuncia cientista possa ser questionado só por inferências lógicas simples ou dados de conhecimento popular. Assim como também não parece razoável que algo sem fonte renomada deva ser aceito como verdade só porque faz sentido ou é de conhecimento geral.

Uma fala, um escrito ou um desenho sem integração com a realidade, por não ser descritivo, tende a não corresponder a um objeto real. A mentira corresponde a um objeto real, e a descrição falsa do objeto real tem o objetivo de produzir resultados reais. Uma imagem da perda da integração com o mundo real é a universidade brasileira, da qual a produção praticamente inteira é ignorada do lado de fora e cuja presença nesse lado de fora praticamente não passa de produção de diplomas e consumo de dinheiro público.

Mas o uso não descritivo e desumanizado da linguagem produzido pelo desprezo à verdade e pela perda de integração com a realidade tem um outro efeito, que vimos neste caso do coronavírus: o mundo real deixa de ser referência do certo e do errado. Para a pessoa de raciocínio normal, a qualidade de uma previsão estatística ou de acontecimento para um tempo dado se mede pela concordância entre o que foi previsto e o que aconteceu, e a autoridade do autor da previsão se mede pelo seu histórico de acertos. Em outras palavras, a qualidade de uma previsão e a autoridade do autor são medidas no mundo real e na capacidade descritiva da linguagem usada. Nós vimos as legiões de histéricos do coronavírus dizendo "quando morrer alguém da sua família", "quando os caminhões do Exército levarem os corpos",... E os 5.571 mortos uma semana atrás, eles viram? Você viu?

NOTAS E REFERÊNCIAS:

[1] "Exclusivo: Abin fala em 5,5 mil mortes em 15 dias enquanto Bolsonaro chama coronavírus de histeria", The Intercept Brasil, 24 de março de 2020, https://theintercept.com/2020/03/24/coronavirus-abin-projeta-mortes.

[2] "Casos de coronavírus no Brasil em 13 de abril", G1 Bem Estar, 13 de abril de 2020, https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/04/13/casos-de-coronavirus-no-brasil-em-13-de-abril.ghtml.

[3] Olavo de Carvalho, 29 de outubro de 2018 às 02:38, https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10156678693227192&set=a.10150106636082192.

[4] Por exemplo, temos esta tabela do Ministério da Saúde publicada em matéria da Agência Brasil:


"Entenda a diferença entre covid-19, resfriado e gripe", Agência Brasil, 15 de março de 2020, https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-03/entenda-diferenca-entre-covid-19-resfriado-e-gripe.

[5]




Abigail Pereira Aranha[06] Eu deixei esta pergunta em outro tópico e repito aqui: você pode dizer com suas palavras quais os sintomas da CoVID-19?

Warley Back[07] Abigail Pereira Aranha bolsominion não entende nem se desenhar, pra vocês o ideal e uma vala comum, serão enterrados sem piedade nem compaixão

Warley Back, Detonando a Bíblia, 19 de março de 2020 às 20:11, https://web.facebook.com/groups/Detoneab/permalink/3130293613667949/?comment_id=3130508500313127&reply_comment_id=3130551616975482.

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