quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Como os conservadores fizeram feio ser hétero e bonito ser homo - episódio 3: várias megaempresas têm grupos LGBT para funcionários; se você é um empregador "sério", a culpa é sua

Abigail Pereira Aranha

"Chefe, sou gay" (Exame, trecho)[01]

"Chefe, sou gay"

Uma nova geração de executivos homossexuais começa a tratar abertamente uma questão ainda vista como tabu no mundo corporativo — e essa é uma boa notícia também para as empresas

Por Lucas Rossi

26 de junho de 2015, 15h53

Assim como ocorre com outras minorias, mas com algumas décadas de atraso, hoje existem centenas de grupos LGBT dentro das empresas. A pioneira foi a AT&T, maior operadora de telefonia dos Estados Unidos, que lançou o grupo em 1987.

Na última década, porém, várias empresas seguiram o mesmo caminho, como as gigantes de tecnologia Google e IBM, os bancos HSBC e Goldman Sachs e as químicas Basf e Dow. A American Express tem uma rede interna chamada pride network (em português, "rede do orgulho") com mais de 1 000 integrantes no mundo.

A consultoria McKinsey tem a Glam — sigla em inglês para "gays and lesbians at McKinsey" (em português, gays e lésbicas da McKinsey). Atualmente, 21% das grandes empresas do mundo têm grupos LGBT — os dedicados à ascensão feminina estão presentes em 80% das empresas, segundo a consultoria de recursos humanos Towers Watson.

(Palavrões cabeludos) Meus comentários

Uma das primeiras coisas de que eu me lembrei quando eu li essa matéria foi este caso:[02]

Um mês atrás, [Alexis] Frulling era uma jovem só vivendo sua vida em Calgary. Tudo aquilo mudou rapidamente quando, no caminho para um concerto de Wiz Khalifa, ela e os dois rapazes com quem ela estava viajando tiveram a ideia de fazer um menage. Eles escolheram uma área entre dois edifícios que eles pensaram que era discreta e fizeram, bem, um "threesome". Provavelmente não a melhor decisão do mundo - o lugar, ou seja, não o ato sexual em si.

(...) Frulling nunca pensou que ela acabaria em um clube de striptease. Mas neste momento, ela tem agora um dos nomes mais pesquisados no Canadá. Ela está desempregada, e a atenção vinda do vídeo significativamente feriu, se não decididamente eviscerou, suas expectativas de trabalho em sua cidade.

"Eu não posso conseguir um emprego em Calgary por toda essa merda que está acontecendo", ela diz.

Uma grande coincidência que pode ser até didática é que "um mês atrás" (a matéria é da Vice, 21 de julho de 2015) dá quase o mesmo dia 26 de junho de 2015 daquela matéria da revista Exame. Uma informação da matéria sobre o caso do blogue Pagenotfound, do jornal O Globo (negrito no original):[03]

A mulher que foi flagrada fazendo sexo com dois homens em uma rua de Calgary (Canadá) está reclamando ter dificuldade para conseguir um emprego fixo que não envolva sexo.

Você não pode perder o emprego ou sofrer discriminação no local de trabalho por ser homossexual. Mas pode perder o emprego e todas as vagas de trabalho por ser hétero? Aí, eu lembro uma coisa que eu disse em julho:[04]

Demonstrar heterossexualidade na vida profissional ou na vida política é perigoso tanto para homens quanto para mulheres, mas os motivos são diferentes. Os homens não costumam ser tratados como indivíduos humanos. As mulheres sim, ou um pouco mais, por causa do Ginocentrismo em geral e do Feminismo em particular. Um homem casado e com filhos nem tem o próprio dinheiro que ganha. E a sexualidade é coisa de indivíduo humano. Um homem pode ser repreendido se acessar material erótico ou pornográfico no computador do trabalho, ou mesmo no próprio celular durante o expediente, como aconteceu com um deputado no Brasil[05]. Mas uma mulher heterossexual pode ter problemas não por ela mesma, mas porque ela favorece a heterossexualidade masculina. Vejamos: um executivo ou um político (homem) pode ser repreendido por procurar prostitutas, mas nenhum perdeu o cargo por isso; mas uma mulher pode perder o emprego (qualquer um) só porque tem fotos dela nua circulando na internet[06] ou porque ela é ou já foi prostituta ou atriz pornô[07]. Mas dificilmente uma mulher foi demitida ou sofreu aborrecimentos (pelo menos sem grandes consequências contra a outra parte) por ser assumidamente lésbica.

Se você for uma LGBT-feminista e estiver dizendo "Vai falar dos problemas dos homens?", peço pra você ficar só mais um pouquinho. Eu estava pesquisando aquele caso da Alexis Frulling, eu achei algumas pregações lesbofeministas como aquele artigo da Vice e um da Odyssey[08] e descobri um outro caso: "Policiais [femininas] da Polícia de Nova Iorque encaram medida disciplinar por posarem com um stripper [homem]"[09]. Como eu dizia, está difícil para mulheres heterossexuais também. Comenta agora, lésbica miserável. E nós vimos que o Google está naquela lista arco-íris, ele ficando horrível no que ele já foi (ainda é) referência, a pesquisa na internet, eu achei aquela matéria "Chefe, sou gay" procurando um texto do Reinaldo Azevedo sobre jornalismo.

Por falar em pesquisa, eu fui ao Google também para achar o caso em que a Bree Olson foi recusada para propaganda de uma empresa de roupas íntimas porque ela foi atriz pornô. Pelo que ela contou ao The Daily Dot, o perfil da empresa no Instagram era menos recatado que o dela. "'Em muitas das fotos no Instagram, suas modelos estavam até de topless', ela diz". "Mesmo assim, a empresa respondeu dizendo a ela que eles não acharam que ela era uma boa modelo porque o Instagram dela era muito 'inapropriado' - apesar de que ela estava completamente vestida na grande maioria das suas fotos".[10] Junho de 2015, de novo! Mas antes de achar essa matéria, eu achei uma notícia... se lembram de quando o Pornhub fez uma campanha para o Outubro Rosa de 2012? Quando eles foram entregar a doação para uma fundação de combate ao câncer, a Susan G. Komen for the Cure, a fundação recusou a doação e disse para o Pornhub não citar o nome dela.[11]

Mas naquele 2015, não foi em junho, mas em outubro, Martin Daubney publica no Telegraph um artigo intitulado "Bom trabalho, feminismo. Agora, os homens têm medo de ajudar as mulheres no trabalho".[12] O texto é sobre um livro sobre a paranoia do assédio sexual no trabalho no Reino Unido e conta, por exemplo, que já houve homem chamado pelo Departamento de Recursos Humanos sob acusação de assédio sexual só porque segurou uma porta aberta para uma colega mulher passar. Na postagem em que eu traduzi esse artigo para o português[13], eu reproduzi também um artigo de capa da revista Veja da primeira edição deste ano de 2018 sobre "as novas condutas pautadas pelo feminismo", contando que homens não dão carona pra colegas e subordinadas mulheres, não ficam nas salas deles de portas fechadas com mulheres, não almoçam no refeitório da empresa só com uma mulher junto, tudo para não serem acusados de crimes sexuais. E os autores da matéria acham isso maravilhoso. E agora, os gays e as lésbicas estão saindo do armário para os héteros entrarem?

"Ah, mas se a pessoa faz bem o trabalho dela, não importa se a pessoa é homossexual". Pra quem é hétero isso não vale, né, lésbica idiota? (Ou emasculado idiota) Eu contei há pouco o caso da Bree Olson. Só de casos de mulheres que foram demitidas porque fizeram filmes pornográficos, tiraram fotos nuas, tiveram "vídeos íntimos" vazados, tudo isso fora do local de trabalho ou até antes de entrarem no emprego da época, eu já fiz três seleções, 2007, 2012 e 2017. Aquela matéria do The Daily Dot cita o caso da professora Stacie Halas, que eu citei em 2012, e o da Gauge, que era cirurgiã, descobriram que ela foi atriz pornô, foi demitida e teve que voltar à pornografia. E ao contrário do que os feministas dizem, a vida sexual do homem não é tão fácil. Um investigador da Polícia Civil de São Paulo foi demitido porque ele fez um filme pornográfico antes de entrar para a polícia, e só conseguiu voltar porque a lei não permitia avaliá-lo pela vida pregressa.[14]

E para piorar, o grupo LGBT dentro do ambiente de trabalho não existe sem falar de sexo ou pelo menos de sexualidade. Já ia me esquecendo: conforme a empresa, é proibido até namoro entre colegas de trabalho, como aconteceu no Walmart de Porto Alegre em um caso em que ele teve de pagar indenização.[15] Mas os gays e as lésbicas têm o grupo deles com apoio da empresa. E o que define um gay, uma lésbica ou um transexual é a sexualidade (ou algo parecido). Um grupo de negros, de mulheres, de idosos ou de pessoas de uma outra região do país é reconhecível fisicamente. Se você é funcionário de uma grande empresa em Minas Gerais e alguns dos seus colegas do Nordeste do Brasil fazem um grupo, você sabe que um colega nordestino está no grupo ou poderia estar. Mas não existe sinal físico de que um homem é gay ou uma mulher é lésbica. Se eles quiserem esconder que são, eles podem. Mas como eles vão mostrar se quiserem mostrar? No mínimo, dizendo que são. E o que é ser homossexual? Gostar de gente do mesmo sexo. Se declarar homossexual é sempre, de alguma forma, falar de sexualidade (ou algo parecido). Vai ter nudez ou sexo na reunião do grupo gay ou lésbico da empresa? Não, espero que não. Mas você rapaz hétero que trabalha em empresa, você não pode entrar um portal de ensaio sensual no computador do trabalho porque ou tem filtro que não deixa, ou tem spyware pra fiscal encher o seu saco no máximo no dia seguinte. Daqui a pouco, você vai poder fumar maconha no local de trabalho mas não vai poder fazer uma roda com os seus colegas homens para conversar sobre sexo ou mostrar pornografia no seu celular, porque uma mulher ou o seu colega emasculado não pode nem passar perto de vocês.

Mas os problemas do grupo LGBT são dois, precisamos terminar entendendo isso. O primeiro é que isso não é uma ofensiva dos homossexuais contra os heterossexuais. Essa guerra nunca existiu como regra geral entre o povo de verdade. A coisa é uma ofensiva contra os homens héteros sim, mas feita por "agentes de transformação social" que nem sempre são homossexuais, mas querem promover a destruição da autoestima do homem heterossexual com um pretexto novo, de dar direitos a outras pessoas que não são homens héteros. O segundo problema é que o Conservadorismo cristão é parte do problema. Ah, e para as mulheres, a empresa pode ter regras para tamanho de decote, tamanho de unha, maquiagem, tudo coisa "profissional", de gente "séria". Os empregadores conservadores fizeram o que puderam para fazer a vida do homem heterossexual um rascunho do Inferno. Daí, fizeram a vida laboral ser uma extensão da luta contra o sexo. E quando vieram os socialistas, o "sexo anal contra o capital" veio depois.

NOTAS:

[01] "Chefe, sou gay", Exame, 26 de junho de 2015, https://exame.abril.com.br/revista-exame/chefe-sou-gay.

[02] "Catching Up with the Canadian Woman from the Viral Threesome Video at Her Strip Club Debut", Vice, 21 de julho de 2015, https://www.vice.com/en_us/article/4wb3gg/catching-up-with-the-woman-from-the-calgary-stampede-threesome-as-her-strip-club-debut.

[03] "Mulher vista em sexo a três tem dificuldade para achar emprego", Pagenotfound, O Globo, 22 de julho de 2015, https://blogs.oglobo.globo.com/pagenotfound/post/mulher-vista-em-sexo-tres-tem-dificuldade-para-achar-emprego-569609.html.

[04] "Os direitos das mulheres profissionais do sexo são direitos das mulheres, o trabalho sexual é direito dos homens (para 15 de julho, Dia do Homem no Brasil)", 14 de julho de 2018, A Vez das Mulheres de Verdade, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2018/07/para-15-de-julho-de-2018.html; e A Vez dos Homens que Prestam, http://avezdoshomens.blogspot.com/2018/07/para-15-de-julho-de-2018.html.

[05] "Deputado assiste a vídeo pornô durante votação da reforma política", Congresso em Foco, 30 de novembro de 2017, https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/deputado-assiste-a-video-porno-durante-votacao-da-reforma-politica.

[06] Por exemplo, uma assessora de gabinete da Câmara Municipal de Cáceres, Niuara Artiaga, foi exonerada por ter feito um ensaio sensual e publicado no Facebook. "Exonerada após ensaio nu, ex-assessora de vereadora relata assédio e afirma ter feito trabalho artístico", Olhar Direto, 21 de fevereiro de 2018, http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=443277&noticia=exonerada-apos-ensaio-nu-ex-assessora-de-vereadora-relata-assedio-e-afirma-ter-feito-trabalho-artistico.

[07] Eu fiz algumas seleções de casos:

"Mulher pelada vai ser sempre castigada?", 12 de dezembro de 2007, A Vez das Mulheres de Verdade, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2007/12/mulher-pelada-vai-ser-sempre-castigada.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2007/12/mulher-pelada-vai-ser-sempre-castigada.html;

"Quem sabe o que é moral: quem acha que uma professora não pode mostrar os seios numa revista ou quem não vê nada de mal nisso?", 24 de maio de 2012, A Vez das Mulheres de Verdade, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2012/05/quem-sabe-o-que-e-moral-quem-acha-que.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2012/05/quem-sabe-o-que-e-moral-quem-acha-que.html;

"Em 10 anos, os conservadores defenderam a castidade e os esquerdistas nos foderam (Mulher pelada vai ser sempre castigada? 2)", 18 de julho de 2017, A Vez das Mulheres de Verdade, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2017/07/em-10-anos-os-conservadores-defenderam.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2017/07/em-10-anos-os-conservadores-defenderam.html.

[08] "The 'Trampede' Against Alexis Frulling", Odyssey, 24 de julho de 2015, https://www.theodysseyonline.com/stop-slut-shaming-alexis-frulling.

[09] "NYPD Officers Face Discipline for Posing with a Stripper", Barstool Sports, 29 de maio de 2018, https://www.barstoolsports.com/boston/nypd-officers-face-discipline-for-posing-with-a-stripper.

[10] "A porn star tells us why she sent this viral warning to young girls", The Daily Dot, 18 de junho de 2015, https://www.dailydot.com/irl/bree-olson-tweet-porn-star.

[11] "Porn Site's Donations to Breast Cancer Foundation Denied", The Bottom Line, 24 de outubro de 2012, https://thebottomline.as.ucsb.edu/2012/10/porn-sites-donations-to-breast-cancer-foundation-denied.

[12] "Well done, feminism. Now men are afraid to help women at work", Telegraph, 01 de outubro de 2015, https://www.telegraph.co.uk/men/relationships/11904203/Well-done-feminism.-Now-man-are-afraid-to-help-women-at-work.html.

[13] "Feminismo e burrice: revista Veja defende hoje o que o Telegraph já mostrou que deu errado mais de dois anos antes", 20 de abril de 2018, A Vez das Mulheres de Verdade, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2018/04/feminismo-e-burrice-revista-veja.html; e A Vez dos Homens que Prestam, http://avezdoshomens.blogspot.com/2018/04/feminismo-e-burrice-revista-veja.html.

[14] "Policial que fez filme pornô é reconduzido ao cargo. Vida pregressa não atinge sua função", DELEGADOS.com.br - Revista da Defesa Social & Portal Nacional dos Delegados, 07 de fevereiro de 2014, https://www.delegados.com.br/noticia/policial-que-fez-filme-porno-e-reconduzido-ao-cargo-vida-pregressa-nao-atinge-sua-funcao.

[15] "Walmart é condenado por proibir relacionamento amoroso entre empregados", Notícias do TST, 07 de julho de 2014, http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/walmart-e-condenado-por-proibir-relacionamento-amoroso-entre-empregados.

  • 0Blogger Comment
  • Disqus Comment

Leave your comment

Postar um comentário

Abigail Pereira Aranha no VK: vk.com/abigail.pereira.aranha
E-mail: saindodalinha2@gmail.com

comments powered by Disqus

AddThis

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...