sábado, 11 de janeiro de 2020

Rainhas montadas em cavaleiros brancos

Abigail Pereira Aranha

Quando a lei que dava à mulher os direitos de votar e de ter cargos políticos foi aprovada, quantas mulheres do Congresso votaram a favor? Que piada ruim! Está certo, se mulheres não podiam votar nem ter cargo político, não existiam mulheres no Congresso. Mas com isso, eu chamo a sua atenção para uma coisa um pouco menos óbvia: uma pessoa não pode chegar a uma posição de poder sem ter alguma forma de poder pessoal ou a ajuda de alguém que já está nesta posição ou acima.

Como começou o Feminismo? De acordo com as mulheres feministas, um grupo de mulheres se levantou contra a opressão de uma sociedade que por séculos colocava as mulheres em uma posição inferior. De acordo com os conservadores, um grupo de lésbicas malucas se levantou por um poder diabólico para destruir o Paraíso na Terra que existia por séculos. Os conservadores não sabem explicar como esse grupo de lésbicas malucas chegou a algum lugar (mas eu sei, e é o que eu vou fazer aqui), mas se as mulheres feministas lutassem, hoje ou no século XX, contra uma sociedade como elas dizem que é aquela em que elas vivem, a história do Feminismo seria a preparação para algum dia dos anos 1960 que terminou com algumas lésbicas com ossos quebrados.

Do outro lado, qual foi a oposição masculina que o Feminismo teve? No máximo, alguma reação burra de quem consegue dizer (e acreditar) que as mulheres feministas são lésbicas gordas repulsivas e elas têm vida promíscua com homens (nenhum homem teria interesse sexual por uma mulher feminista mesmo se ela quisesse homens, mas ela consegue vários homens, entendeu?). Os homens conservadores (e algumas mulheres) também tentam provar que o Feminismo é prejudicial para a mulher e o bom é o Conservadorismo, que oferece a ela tudo que o Feminismo promete e muito mais. Aqui eu chego ao ponto: entre os homens, tratar as mulheres de forma especial é a regra geral.

Várias mulheres feministas publicaram livros defendendo a redução da população masculina a algo como 10% da população total, mas nós nunca vimos um livro inteiro defendendo a violência contra a mulher. É isso o que chamam de machismo. Por sinal, quando a palavra "machismo" teve um significado positivo? E por que "machismo" é depreciação da mulher, mas "feminismo" é a defesa da igualdade entre homens e mulheres, incluindo, de acordo com algumas mulheres feministas, ações em favor dos homens? Como regra geral, quando os homens não dão às mulheres o respeito normal entre duas pessoas, eles depreciam a própria masculinidade. Hoje que "feminismo" não é mais uma coisa chique, nós podemos ouvir homens dizendo "eu sou contra o machismo e o feminismo". Mas enquanto o Feminismo é um movimento e uma ideia, o machismo não é. Portanto, este homem iguala o mau entendimento de o que são atitudes masculinas ao feminismo radical. O que ele defende é o Conservadorismo ou um feminismo de esquerda elegante. Nos dois casos, o ser homem só tem sentido e elegância quando está a serviço da mulher (a própria liderança masculina é para dar proteção ou conforto a ela).

Eu dizia que os homens em geral depreciam a própria masculinidade e você pode ter achado estranho. A primeira coisa que eu tinha em mente é a ideia da masculinidade que só tem sentido para servir à mulher, como expliquei há pouco. A segunda coisa é o desprezo da heterossexualidade masculina pelo próprio homem. O "autocontrole" desse homem na presença de alguma senhora feia e desagradável é uma imagem disso. Um crime de homem contra homem porque a vítima fez sexo com uma mulher da família do autor é uma outra imagem. E onde existe proibição ou censura contra seminudez, pornografia ou prostituição, quem faz as ações práticas, inclusive prisões, são homens. Mas eles não são apenas policiais que cumprem leis e ordens? Não é só a eles que eu me refiro. Os superiores hierárquicos também são homens. Se o que é relacionado a sexo é crime, quem fez a lei foi um homem e a maioria que aprovou também é de homens. Certo, isso é regra geral. As mulheres que estão nessas posições explicam a regra: é para isso que os homens existem, para ajudar que as mulheres cheguem aos céus quando elas acharem conveniente ir além do ambiente doméstico.

Pelo menos desde a implantação do Cristianismo, os homens também têm protegido as mulheres com aversão a sexo de qualquer sinal de sexo ou de mulheres que parecem não ter aversão a sexo. Por isso um homem que agride um homem que se aproxima de uma filha dele por supostas intenções sexuais pode agredir essa mesma filha se ela tiver um namorado. Eu já experimentei tentativas de agressão de mulheres porque eu conversei ou transei com o marido ou um filho adolescente dela, mas mais vezes eu experimentei homens que fizeram isso por alguma mulher. Mas quando um grupo de mulheres falou em liberdade sexual, alguns homens as apoiaram, nem sempre com a intenção ter a sua parte nisso; e os homens contrários a esse grupo queriam, em última análise, apoiar as mulheres que não gostam de sexo.

E se um homem vilipendia a própria masculinidade, ele deprecia a sua própria individualidade humana. Esse homem se contém pra não falar perto de mulheres (ou entidades bizarras que levam esse nome) qualquer coisa que seja ou possa ser entendida como relacionada a sexo; ele faz por uma mulher algo que não faria por um homem; ele atrapalha a sexualidade de todos os outros homens que puder e renuncia a sua própria. A troco de quê? De nada. Nada além de agradar o universo feminino.

Homens pelo fim da violência contra as mulheres. Fonte: Emerson Reis NL, 06 de dezembro de 2019 às 09:04, www.facebook.com/emersonreis2014/posts/10157116133382955

"Homens pelo fim da violência contra as mulheres", você pode ter visto essa campanha por aí. Assim como você também viu mulheres defendendo os Direitos Humanos dos Homens. E talvez você também tenha visto mulheres feministas tentando explicar como o Feminismo também pode ajudar os homens. As comunidades masculinas antifeministas usam o termo "cavaleiro branco" para o homem disposto a defender uma mulher só por ser mulher. Os "homens pelo fim da violência contra as mulheres" são "cavaleiros brancos", homens como eles tratam as mulheres como rainhas e, quando podem, até fazem que elas sejam algo perto disso literalmente. Eles fazem isso por nada, às vezes até pra receber o mal pelo bem. Mas as mulheres feministas e as mulheres conservadoras antifeministas não consideram que tomar no cu é princípio moral superior (para muitas, é degradante no sentido figurado e no sentido literal). É bom ganhar o próprio dinheiro, mas um bom marido que ganha mais pode fazer falta. É bom contar problemas para um marido ou um amigo homem, mas é preocupante saber que ele pode se suicidar antes pelos próprios problemas. Os homens conservadores seguem o caminho que sempre seguiram. As mulheres menos estúpidas querem voltar desse caminho novo, mesmo que não exatamente para a idealização que os homens conservadores fazem da época em que os pais nasceram.

Mais uma coisa que os homens e as mulheres antifeministas podem ter notado: por que tantas vezes um homem feminista faz uma bajulação vergonhosa ao universo feminino e ele não se corrige quando vê que as mulheres em geral não o veem como uma espécie de "amigo da mulher" e muitas delas até o reprovam? Melhor: por que esse homem nem sabe que foi essa a reação do universo feminino? Isso se aplica ao homem feminista militante que usa um vestido em u'a manifestação contra a violência contra a mulher, mas também é o caso de um vereador que cria uma lei para que todos os assentos dos ônibus urbanos sejam preferenciais para as mulheres (sim, isso aconteceu em Fortaleza). Mas isso não é só porque esse homem reverencia a mulher sem esperar nada em troca. Quando esse homem não observa o "feedback" dos seus atos nem que seja pra pensar "como eu posso me rebaixar mais?", o modelo mental de ginolatria é dogmático e automático o suficiente para não depender da resposta do mundo real externo, mesmo daquela coletividade feminina que ele quer agradar.

Mas se é verdade que a mulher típica de hoje tornou-se desinteressante, insalubre e até perigosa não para casamento, mas para contato próximo, mas tem uma autoestima tão grande quanto a pobreza de espírito; alguns homens só estão em comunidades antifeministas como Real, MGTOW ou Red Pill porque, por isso mesmo, não encontraram uma bela mulher frígida provinciana disposta a se casar virgem com um falso moralista de pau pequeno. Esses homens idolatram a época em que os pais nasceram. Eles de coração trocariam o que chamam de perdição moderna por um passado em que mulheres não saíam à rua desacompanhadas e em que qualquer foto de uma mulher que só mostra os braços e as pernas era tão clandestina quanto uma droga ilícita. Naquele tempo, era até mais provável um homem morrer por acidente de trabalho ou por falsa acusação de assédio sexual. Mas como eu já vi homens conservadores dizendo em 2019, a vida de um homem não pertence a ele e o casamento não é para um homem ser feliz. Quando alguns homens heterossexuais cristãos foram rejeitados pelas mulheres porque o seu tradicionalismo não lhes era atraente, eles perceberam que todos menos eles têm direito a alguma coisa; só então eles começaram a defender os seus próprios direitos.

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