domingo, 2 de julho de 2006

Aborto, assédio, estupro, etc.

Abigail Pereira Aranha
Estupro – Por mais violento que seja o estupro, o maior trauma da vítima é o de ter sido obrigada a fazer o que ela mais abomina, o sexo, sem um retorno. A mulher aprende a ter horror ao sexo e ao próprio corpo. Ela quer ser atraente, provocante, mas não consegue ver o sexo com prazer. E tem mais, na moral religiosa, a mulher é propriedade. Então, se um homem quiser usufruir, ou paga (casa) ou que fique chupando o dedo. É assim que os pais das mocinhas (e até algumas das mocinhas) pensam. O que se acha pior na verdade, até independente de como tudo tenha sido horrível, é que um homem usufruiu a mercadoria sem pagar ao pai-proprietário (casar com a moça), ou desrespeitou o marido-proprietário da vítima. A mulher é desrespeitada sim (o estuprador geralmente é outro machista), mas isso não é o pior. A vítima já aceitou a violência da repressão sexual, principalmente contra os homens, então muito do sofrimento dela vem muito mais de seu consentimento com essa moral hipócrita do que de qualquer coisa que tenha realmente sofrido. Ou realmente a vítima se incomoda não por ter sido vítima de violência, mas porque pelo menos uma vez na vida o hábito dela de zombar da sexualidade dos homens foi contrariado. Mas isso pode ser o começo, se ela quiser, quando ela começar a ver a violência pior, que é a proibição do prazer e a nossa anulação como pessoas. Nossa, de mulheres e homens.
Aborto – Muitos transformaram o sexo em uma relação de poder ou de interesse, um lado se diverte e o outro satisfaz o cliente. E essa relação de poder ou de interesse pode produzir um "probleminha". Mas o pai às vezes não pode assumir que teve esse filho. Ou é a mãe que não quer. Qual a solução? Eliminar o "probleminha". Bom, se você sabe que uma criança não tem culpa da forma como foi gerada, sabe que não é preciso ser religioso pra ser contra o aborto. Quem é contra a religião não tem que dizer "não" só porque a igreja diz "sim". O aborto elimina crianças "inconvenientes" e é mais um falso moralismo.
Assédio sexual – Geralmente é outra demonstração de poder. O mais forte (o patrão, por exemplo) pode exigir que o mais fraco lhe dê prazer. Ou então é um caso de uma mulher achar que um homem comum olha demais ou fica perto demais dela. Devemos respeitar a propriedade privada ambulante alheia. A mulher provocante na rua é só pra olhar e ficar com água na boca, se o homem não agradá-la (casamento, dinheiro,...). Está certo que o assédio é chato sim, mas quando é realmente assédio. Geralmente é muito mais um não-me-toque do que uma perturbação de verdade. É um contato que poderia dar uma boa conversa, uma boa amizade, sexo (qual o problema?) se não fosse a repressão religiosa e a mente pequena de algumas pessoas, principalmente as mulheres.
Anticoncepcional – Se o sexo não tem gravidez, só sobra o prazer (que é pecado). E sem a gravidez indesejada, é menos um empregado pra ser explorado, menos um desempregado pra ser explorado, menos uma criança pra passar fome, menos um filho pra fazer os pais terem de trabalhar mais (como se já não trabalhassem muito). E menos um casamento horrível.
Preservativo – É o apocalipse. É o fim da relação entre sexo e medo, é o fim da pregação que liga prazer e morte. Você pode transar sem ter uma gravidez indesejada e sem pegar doença, talvez com alguém que não transaria por medo disso. Você é mais livre pra curtir e tem mais chance de pensar no que mais está perdendo da vida.
Prostituição – Tudo que um homem pode fazer neste lugar poderia estar fazendo em algum outro lugar (até numa praça no centro da cidade) com uma outra mulher que não é prostituta, se não fosse a moral da religião controlando a todos. Mas a mulher direita vê o prazer como coisa de mulher sem valor e não quer ser confundida com uma qualquer destas. E aceita a sua vida pobre, na cama e fora dela, ao mesmo tempo em que faz pobre a vida dos outros. A mulher de família odeia a prostituta e ensina o filho homem a desprezá-la também. Se nós vemos pessoas descrevendo a prostituição como uma vida miserável, não é pelos problemas que as prostitutas passam, é porque essas pessoas tratam o sexo em si como uma coisa suja e que tira a dignidade da mulher.
Homossexualismo – Qualquer um sabe que ninguém acorda um belo dia e descobre que é homossexual. E essa pessoa em vez de encarar os traumas que ela sofreu de frente, o abuso que ela sofreu, as decepções que teve, a repressão que ela foi aceitando até não agüentar, foge do outro sexo. Em vez de se revoltar contra a moral repressora, ela cria uma atração vergonhosa pelo mesmo sexo, às vezes até luta para que aquilo seja considerado normal. Por isso, porque o homossexualismo tem essa parte de fuga da heterossexualidade, sempre houve muito mais homens e mulheres se assumindo homossexuais ou tentando viver o homossexualismo do que mulheres confessando uma vida devassa (com homens).
Pornografia – Que é gostoso é, mas a pornografia não é algo que anima e dá esperanças em termos de sexo (e da vida em geral). Se você é um homem que gosta de sexo, vai consumir um material onde você vai só ver, sem poder participar (igual ver uma festa pela janela do salão), e onde o homem acha uma mulher que encarna as fantasias dele e que faz tudo que ele quer. A mulher que está lá é atraente, fogosa, a cena é excitante, mas é uma mulher como ele nunca vai encontrar, que faz coisas que ele nunca pode pedir a uma mulher que seja "decente" e é uma cena que ele não vai ter condições de repetir na vida real. É tudo proibido. O pior na pornografia não é que ela mostra uma vida que não existe, é que ela mostra a direção de uma vida que podia existir, para homens e mulheres comuns. Se a cena de uma jovem com um velho na beira da piscina é meio deprimente, uma cena no mundo real de um velho pobre simpático, e bom de desempenho, com uma garota de bom caráter seria legal. E como dizem, pornografia é coisa de moleque, homem maduro trabalha, casa e se arrebenta. Desejar um sexo bom com uma mulher gostosa é coisa de adolescente imaturo, homem maduro chega em casa ou no trabalho pensando no fim da semana, em sumir ou morrer.
Censura – Se um adolescente vê o sexo como algo normal e gostoso, vai começar a questionar a cabeça limitada dos pais e do ambiente onde vive. O rapaz de uma cidadezinha enfiada no meio do nada pode não aceitar se casar com quem os pais-cafetões deixam que ele se case, porque ele vai saber do que gosta, o que merece e não vai abrir mão. É melhor deixar os moleques na ignorância achando que o sexo é uma coisa suja. Prazer não é assunto para eles. Se eles descobrirem alguma coisa, vai ser fora de casa. Além disso, a censura vem da idéia de que a sua sexualidade é um pecado a ser combatido. Você vê pornografia, deseja alguém ou faz sexo com alguém que não seu cônjuge, tudo escondido, e depois precisa se arrepender. Pecado é tudo que a igreja quer que você acredite que é errado (incluindo algumas coisas que realmente são) para te controlar pela culpa e pelo medo do nada. E a mesma censura feita em nome de proteger crianças e adolescentes do sexo pode ser feita (ou já é) para proteger os adultos de conteúdo político ou religioso "impróprio".
Sim, eu tenho uma vida de prostituição. Não sou prostituta de profissão porque eu ainda tenho 15 anos. E vejo pornografia também, às vezes sozinha, às vezes acompanhada. Acompanhada de rapazes, claro. Não posso dizer que nunca fui assediada sexualmente ou que eu não posso ser estuprada só porque eu não tenho nada contra sexo. Eu uso preservativo e não pego doença nem gravidez indesejada. Por isso, nunca fiz e, continuando assim, nunca farei um aborto. E eu vejo por experiência que quem não aceita "indecência" não aceita bem a alegria ou a inteligência dos outros, e quem tem assunto proibido tem pensamento proibido. Viva o prazer. Viva o sexo. Viva a vida.
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