Eu escrevi ontem "Direita cristã, acabou! - parte 24" sobre o vexame do Partido Novo em relação ao PMB, Partido da Mulher Brasileira. Estou voltando ao assunto, mas vou comentar também sobre o PT em particular e a esquerda em geral, e sobre como os conservadores (e os ditos conservadores) ainda não entenderam o que aconteceu. Vou pegar u'a matéria do Reinaldo Azevedo, de hoje de manhã, intitulada "PSDB é a legenda com a maior taxa de sucesso; Rede, de Marina, é um mico espantoso":
A Folha publica nesta terça um ranking muito interessante (ver abaixo gráfico elaborado pelo jornal), que poderia ser chamado de "Índice de Eficiência dos Partidos". Nesse caso, considera-se não as cidades conquistadas, mas a percentagem de sucesso em relação aos candidatos lançados. Se o PSDB é a legenda que mais cresceu em número de prefeituras, que vai administrar a maior fatia do eleitorado brasileiro (23,9%) e que vai gerir a maior receita (mais de R$ 160 bilhões ao ano), é também aquela que obteve a maior taxa de sucesso: conseguiu eleger 46,7% dos candidatos que lançou. Em segundo lugar, vem o PMDB, com 44,8%.
(...) O PT, que foi esmagado nas urnas, elegendo apenas 254 prefeituras, lançou um número menor de candidatos do que em jornadas anteriores, mas, ainda assim, em quantidade considerável: 980. Sua taxa de sucesso foi magra: de apenas 26%, o que o colocou em 13º lugar.
Também nesse ranking, um mico mais uma vez se alevanta, apesar do prestígio quase metafísico de que ainda goza na imprensa. Do conjunto de 31 partidos, a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, conquistou, atenção!, apenas 4,5% das prefeituras que disputou. Como o partido vai administrar sete cidades, isso implica que a legenda deve ter conseguido se estruturar em 155. Ora, ora! A sempre opiniática Marina Silva conseguiu fazer com que a sua pretensiosa Rede disputasse a eleição municipal em apenas 2,7% dos municípios brasileiros, elegendo prefeitos em 0,12% deles! Um portento! Coisa de nanico!
E o PSOL, que, a julgar por certa imprensa, está prestes a tomar o lugar do PT como a alternativa à esquerda? Elegeu, ora vejam, prefeitos em 0,5% dos municípios que disputou. Fabuloso! Como ficou com duas prefeituras, deve ter se apresentado, pretensioso que é, em 400 cidades. Entendi: o PSOL gosta de disputar, ainda que o eleitor não tome conhecimento de sua existência. A realidade do país, infelizmente, ainda está bem distante daquela vivida pelos ricos da Zona Sul do Rio, que estão de tal sorte seguros dos seus privilégios que se dão ao luxo de ser socialistas.
Vocês leram e se lembram do que eu escrevi há duas semanas sobre o torcedor-pregador? A matéria da Folha de São Paulo que ele cita é das 02:00 de hoje, "Mais eficiente das siglas, PSDB elegeu 47% de seus candidatos a prefeito". O autor, André Monteiro, entendeu menos mal:
Atingido em cheio pela Operação Lava Jato e após perder o governo federal com o impeachment, o PT lançou menos candidatos neste ano e penou para levantar recursos para as campanhas.
Seu índice de sucesso também foi mais baixo. Dos 980 petistas que disputaram, 254 foram eleitos, o que resulta em índice de 26% e que coloca a sigla na 13ª colocação.
Há quatro anos, embalado pelo terceiro mandato federal consecutivo, o partido venceu em cidades grandes como São Paulo e obteve índice de sucesso de 36%, décimo mais alto naquele ano.
Estreante nas urnas, a Rede teve um dos menores índices de sucesso. Apenas 4,5% de seus candidatos conseguiram se eleger. Também estreante, o Solidariedade obteve 23%.
O Tio Rei colocou o gráfico do Índice de Sucesso dos Partidos para estas eleições no blogue dele. Vou pegar alguns partidos. PSC, o do Marco Feliciano e do Jair Bolsonaro: 27,1%; PT: 25,9%; PCdoB: 25,8%; Solidariedade, do Paulinho da Força, companheiro de militância do Lula: 23,4%; PSDC, Partido da Social Democracia Cristã: 8,5%; REDE: 4,5%; PSOL: 0,5%.
Eu fui àquela matéria da Folha de São Paulo e peguei o infográfico, do mesmo tipo, para as eleições de 2012. Não está em ordem porque o gráfico segue o desempenho em 2016.
Vou pegar os mesmos partidos, menos o Solidariedade e a Rede que não existiam, mais o PP, que era o partido do Jair Bolsonaro, e o Democratas. O Democratas era onde estava o senador Demóstenes Torres, que foi o mais famoso opositor ao governo PT na época e foi cassado a pretexto de envolvimento com um bicheiro. Isso foi para a Rainha Louca se livrar de um adversário e ainda desviar a atenção do Mensalão, que já tinha sido divulgado na imprensa havia uns 7 anos e não tinha dado praticamente em nada. E descubro por acaso que na semana passada, a anterior às eleições, "STF anula provas contra ex-senador Demóstenes Torres" (Veja, 25/10/2016). Vamos aos números. PP: 44,3%; DEM: 38,1% (foi 37,4% este ano); PT: 35,9%; PSC: 26,5%; PCdoB: 23,9%; PSDC: 11,4%; PSOL: 0,6%.
E você sabia que o PSDC, Partido da Social Democracia Cristã, tem um candidato a Presidência da República já faz um bom tempo, o José Maria Eymael? Você sabia que nas eleições de 2014, ele tinha o projeto de um Ministério da Família? O Eymael também é o presidente do partido. Os conservadores que não se interessam pela candidatura dele, por que estão tentando levantar Jair Bolsonaro em 4 anos? E o PSDC diminuiu no índice de sucesso, ficou abaixo do PT nas duas eleições e ainda caiu no número de prefeituras de 10 para 9. E onde está o problema do partido?
E ainda vemos que o PSDB e o PMDB, do vice de Dilma Rousseff, continuam o segundo e o primeiro, respectivamente, em número de prefeituras, e o primeiro e o segundo, respectivamente, em índice de sucesso. Se lembram de quando eu dizia, ainda enquanto tentávamos o impeachment, que a direita era quem a esquerda dizia que era? Se lembram da manifestação de São Paulo, da série de 13 de março, em que Geraldo Alckmin e Aécio Neves foram vaiados pela oposição de verdade, que era nós mesmos?
Agora, sim, vamos ao Partido da Mulher Brasileira. O Índice de Sucesso foi 6,6%. Como foram 4 prefeitos eleitos (teve dois homens também), foram 61 candidaturas. Saiu melhor em taxa de sucesso do que a REDE, que teve 4,5%, também não existia em 2012 e ainda foi fundada por uma ex-senadora, ex-ministra e candidata à Presidência da República que ficou em terceiro lugar duas vezes.
E nos dois infográficos, cadê o Partido Novo? Em 2012, ele não estava oficializado. Em 2016, o sucesso foi ZERO. Recapitulando os índices de sucesso dos partidos que disputaram a primeira eleição municipal este ano: Solidariedade, do Paulinho da Força Sindical, que começou companheiro do Lula e rompeu com o PT: 23,4%; PROS: 23,1%, PMB: 6,6%, REDE: 4,5%.
Como eu tenho dito, cada discussão intelectualmente digna de nota está se transformando em debate interno da esquerda. Criminalização versus liberação da pornografia, criminalização versus descriminalização da prostituição, Educação Sexual nas escolas, condições de trabalho da mulher, direitos trabalhistas, participação da iniciativa privada em obras públicas não são mais debates de liberais-conservadores versus progressistas, são de, no máximo, simpatizantes da esquerda moderada versus esquerda radical. Os liberais-conservadores só entram para colaborar com a esquerda radical, acertar pormenores com a esquerda moderada ou apanhar da esquerda inteligente. Não só isso, não há oposição intelectualmente digna de nota contra a esquerda no meio político mesmo nas maiores besteiras. O Bolsa Família, as cotas nas universidades, a bucetalização dos cargos públicos e políticos, a bucetalização do Direito já são tão pontos de consenso que as únicas ameaças contra eles são quem o PT e seus aliados dizem que são. O Partido Novo é o partido da direita e a candidata no Rio de Janeiro capital teve mais de 60 mil votos a menos que Jandira Feghali e quase 18 mil votos a menos que o prefeito eleito de Itaboraí, do Partido da Mulher Brasileira. Ah, e o que teria acontecido com qualquer outro partido, fora o PCdoB, que tivesse um Presidente da República com um governo SÓ com 4% de retração do PIB, ou SÓ com todas as empresas na BOVESPA valendo menos que o Google, para dar dois exemplos? Se, como diz o Reinaldo Azevedo, o PT conseguiu "apenas 254 prefeitos" e "foi esmagado nas urnas", a direita foi o quê?
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