Em vez de obra, "puxadinho"
Para o presidente da Cbic, o Brasil não tem mais tempo hábil para executar projetos para a Copa do Mundo e terminará apelando para improvisos que não acabarão com os gargalos
Amanda Almeida
Representante das principais empreiteiras do país, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) diz que o Brasil perdeu o tempo da Copa do Mundo 2014 e que as obras de infraestrutura não sairão do papel. Para o presidente da entidade, Paulo Safady Simão, "puxadinhos" serão improvisados para dar ares de obra feita. "É claro que vamos passar vergonha diante dos turistas", comentou. Em palestra ontem, em Belo Horizonte, ele afirmou ainda que nem mesmo o novo modelo de contratações, à espera da sanção da presidente Dilma Rousseff (PT), cumprirá o objetivo de acelerar as obras. Para ele, o sistema criará mais um problema: "O Regime Diferenciado de Contratações é um campo aberto para a corrupção".
"Do ponto de vista de legado, morreu. Não tem mais o que fazer", disse Simão, em relação à Copa do Mundo, acrescentando que "a iniciativa privada não vai abraçar causa perdida". Para ele, o governo federal demorou para se mobilizar e estimular empreendedores. Entre os principais gargalos estarão os aeroportos. "Vão fazer um 'puxadinho' no aeroporto internacional de Confins, que precisava de um novo terminal. Os turistas só vão constatar uma coisa que já sabemos: os terminais não têm estrutura para recebê-los", afirmou Simão.
Presente na palestra de Simão, a gerente de atração de investimentos e turismo do Comitê Executivo da Copa em BH, Stella Kleinrath, destacou que a cidade está adiantada nas obras, citando a reforma do Mineirão, a duplicação da Avenida Antônio Carlos e a construção de 12 hotéis. Mas, para Simão, grandes problemas continuarão sem solução: a expansão do aeroporto de Confins e a do metrô. "A Copa do Mundo vai se resumir a grandes arenas e a um sistema de comunicação perfeito, que é o interesse da Federação Internacional de Futebol (Fifa)", disse.
RDC Sob o argumento de acelerar as obras da Copa do Mundo 2014, o governo pressionou o Congresso pela rápida aprovação do RDC. Entre outras regras, o sistema autoriza o governo a não revelar o custo estimado das obras aos participantes da licitação. Enquanto o Executivo defende que as novidades evitarão "conluio" entre empresas, a Cbic diz que a medida acaba com a transparência nas contratações. "Se você faz opção por ocultar os preços, você está querendo dizer que alguém vai sair beneficiado com alguma informação que vazar", argumenta Simão.
Ele desaprova também o item que permite pregão para contratações. "É um absurdo, porque o governo está criando um risco muito grande de ter obra inacabada. Se o administrador público faz orçamento de R$ 100 mil por uma obra e uma empresa oferece R$ 80 mil por ela, será escolhido o menor preço. Mas quem garante que não haverá queda de qualidade ou até mesmo o abandono da obra? Nenhum administrador vai ter peito para bancar obra mais cara", diz o presidente da Cbic. Ele esteve na Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas) para falar sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O presidente da ACMinas, Roberto Fagundes, afirmou que "o PAC praticamente não chegou ao estado", disse.
Saiba mais - o que é o RDC
Incluído na Medida Provisória 527, o Regime Diferenciado de Contratação (RDC) é uma opção para as prefeituras, governos estaduais e a União usarem quando se tratar de uma obra destinada à Copa do Mundo de 2014 ou às Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. A principal inovação é a criação da "contratação integrada". A empresa contratada é responsável pelos projetos básico e executivo e a construção. A obra deve ser entregue à administração pública pronta para uso. Trocando em miúdos, o governo entrega apenas um "anteprojeto de engenharia" às empresas licitantes. A administração fará um orçamento interno, mantido em sigilo até o fim da licitação, usando valores estimados com base em preços de mercado ou já pagos em contratações semelhantes ou calculados de acordo com outras metodologias. O orçamento sigiloso ficará em poder dos órgãos de controle o tempo todo, mas só será revelado à sociedade após a licitação.
ALMEIDA, Amanda. Em vez de obra, "puxadinho". Estado de Minas, nº 25.367, Belo Horizonte, 20 de julho de 2011, pág. 6.
Comentários de Universidade Plebéia Revolucionária
Placa na BR-040, município de Nova Lima: "Caminhoneiro. A 8 km, anel rodoviário. Via urbana com muitos veículos. Fique atento! CNT, SEST, SENAT, DNIT, Polícia Rodoviária Federal". Placas assim estão entre o trevo da BR-040 com a BR-356 e a BR-040 a 10 km na direção do Rio de Janeiro. O poder público atesta a desgraça do sistema rodoviário como se não tivesse nada com isso!
Uma edição do Jornal do Ônibus, da BHTRANS, fala sobre a construção da estação São José, que é a Alípio de Melo prometida há mais de 15 anos. Também fala da estação Pampulha, na av. Pedro I esquina com av. Portugal. Quem vier do aeroporto de Confins verá pela av. Cristiano Machado o terminal de integração metrô-ônibus da estação Vilarinho. Quem vier pela av. Pedro I, verá a bela estação Pampulha.
Bem, falo de Belo Horizonte porque é um lugar que conheço. O leitor deve poder citar gambiarras no transporte coletivo, avenidas problemáticas, bairros mal estruturados e outras desgraças em outra cidade. E verá, se esta for sede ou subsede da Copa do Mundo do Brasil, problemas de 20 anos ou mais receberem pseudo-soluções avacalhadas e apressadas dadas em 2 ou 3 anos.
Sobre esquemas de corrupção na copa da África do Sul e outras, veja a entrevista "'Fifa corrompe os países que recebem a Copa', acusa repórter da BBC", reproduzida em Debatepronto’s Blog (http://debatepronto.wordpress.com/2010/08/11/persona-non-grata-entidade-menos-ainda/). Andrew Jennings (o repórter da BBC) informa na entrevista:
O principal escoadouro de recursos é a construção de estádios. Quando se sabe que haverá investimento público em estádios, acionam o secretário-geral, Jerome Valcke. O sistema é simples: se o estádio vira uma questão de injetar recursos públicos, eles atrasam a obra. Quando isso acontece, surgem os chamados recursos emergenciais. Está feito o estrago: um estádio que custaria 200 milhões de dólares, como o de Port Elizabeth, na África do Sul, se transforma em um elefante branco de 350 milhões. Já notei que os estádios de vocês ainda não saíram do papel. Dá para imaginar o que pode acontecer, não? A Copa do Brasil pode ser a Copa da África do Sul 2 se houver dinheiro público para estádios.
O Brasil vai passar vergonha em 2014! Como país e como time. E não é apenas torcida, é fé de que é só esperar pra ver. Não torço contra o país, torço contra o que merece dar errado.
Abigail Pereira Aranha
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