Estava claro pra mim quando eu tinha 14 anos: câmeras de vigilância são bisbilhotice de vaca velha sexualmente frustrada, não servem pra nada em matéria de segurança. Na hipótese mais gentil, ter a filmagem de cada crime vai servir para identificar e punir cada criminoso depois de tudo acontecido, recuperando dinheiro roubado e olhe lá. E era claro pra mim também que ameaçar com o Inferno da lei só funciona contra gente honesta. Vamos supor que uma mulher esteja sendo estuprada em alguma rua deserta à noite por dois homens e uma câmera de vigilância grave tudo, e pegue o rosto dos autores. Vai chegar uma viatura em 5 minutos com dois policiais para dar prisão em flagrante? Ou os policiais vão chegar em 30 minutos, numa viatura com uma porta estragada depois que os estupradores já fugiram, só pra consolar a vítima e ainda levá-la ao pronto-socorro para tratar os ferimentos? Outra coisa: esses criminosos são novos no crime ou já são conhecidos da polícia? Se já são conhecidos, eles vão ser presos desta vez? Ou mesmo que sejam réus primários, não vão ser presos porque são adolescentes, por exemplo? Se eles forem adolescentes, vão ser condenados a, no máximo, três anos de prisão, se não forem liberados na delegacia mesmo.
O que previne o crime é política preventiva. Só pra não sair muito do pensamento convencional, a prevenção é a polícia funcionando bem, com pessoal em bom número e bem distribuído, com apoio legal e institucional para pegar criminosos. Se nada que ajude a polícia ou a população a prevenir crimes for feito, circuitos de câmeras de vigilância vão colocar a polícia como espectadora da criminalidade.
Como eu disse, eu percebia isso ainda na adolescência. Quando eu fiz 14 anos, era março de 2005, e duas coisas que podem parecer sem relação com câmeras de segurança já aconteciam no Brasil na época: 1) tinha pouco mais de um ano de Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826, 22 de dezembro de 2003, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.826compilado.htm); 2) a popularização dos spywares, softwares espiões que as empresas usam para a gente sexualmente mal resolvida do alto escalão saber o que os funcionários fazem ou deixam de fazer nos computadores da empresa. E o que me fez perceber essa ligação foi a minha própria experiência de vida. Eu já estava "me enturmando" com os rapazes e fui abordada uma vez por dois seguranças em um campus universitário, é um lugar bonito e nós estávamos passeando, porque eu estava com dois amigos homens e eu parecia mais animada do que a média das moças com amigos homens. Menos de um ano depois, eu estava com meus dois blogues, o A Vez dos Homens que Prestam com putaria e o A Vez das Mulheres de Verdade sem putaria, e alguns amigos meus que também eram leitores me contaram que não podiam ler nenhum deles no computador do trabalho em paz, por causa dos spywares. E um destes amigos leitores é um daqueles dois daquele caso que eu contei, então eu liguei as duas coisas.
Eu citei o Estatuto do Desarmamento por dois motivos. O primeiro é que uma medida de segurança é uma medida de insegurança para um eventual criminoso. Colocar um jogo de câmeras em um ônibus para assistir um rapaz de 16 anos fazer um assalto com um revólver, para ele ser levado à delegacia e liberado porque ele é conhecido da polícia desde os 14, mas não pode ser preso, não pode ser medida de segurança. Uma possibilidade de 2,5% de um brasileiro portar uma arma significaria que um ônibus com 40 passageiros tem a expectativa de um deles estar armado. O segundo motivo é que depois que esta lei foi colocada em vigor, o número de homicídios no Brasil nunca diminuiu entre um ano e o seguinte.
Eu estava teorizando até aqui, agora eu vou dar três exemplos. O primeiro é uma conversa minha com um trocador de ônibus, há duas semanas atrás. Ele me contou que um ônibus da empresa foi assaltado, tanto a trocadora quanto os passageiros, contou que a empresa queria cobrar da trocadora o dinheiro perdido no assalto e concluiu que "essas b@§tas dessas câmeras, é pra vigiar é a gente". O segundo exemplo é de um caso de um motorista e um trocador demitidos por terem feito sexo com uma passageira em um ônibus. É claro que ninguém saberia disso se as fotos não fossem compartilhadas na internet, não foram câmeras de vigilância que flagraram o caso, mas poderiam ter sido. O terceiro é um caso comprovado de uma cidade câmeras de vigilância foram instaladas nos ônibus e os roubos aumentaram.
Eu chamo a atenção aqui para a estupidez generalizada aplicada nesta questão da vigilância. Nós vemos cada vez mais câmeras, inclusive em lojas minúsculas à beira da falência e casas medianas de bairros mal localizados, e também cada vez mais roubos e homicídios. Nem mesmo as lojas que têm câmeras têm diminuição do número de roubos. Este é um entre muitos exemplos no Brasil de teses cujas contraprovas estão à vista de toda a população por anos seguidos e parece que além de ninguém perceber, a tese é ainda mais acreditada.
E por que eu estou fazendo um paralelo aqui de câmeras usadas pelo poder público (por empresas privadas também) e spywares usados por empresas privadas? Gente com vida sexual precária bisbilhotando se o rapaz do escritório está acessando o Facebook no computador do trabalho, vacas gordas fracassadas tomando conta da vida dos vizinhos e policiais se preocupando mais em vigiar os cidadãos de bem via câmeras do que em protegê-lo de eventuais malfeitores podem se completar. Aqui eu chamo a atenção dos defensores da liberdade: são duas coisas diametralmente opostas se eu tenho e uso uma liberdade para conduzir minha própria vida sem prejudicar ninguém e se eu uso minha propriedade privada para infernizar a vida dos outros. Da forma como os direitistas cristãos e os ultraliberais ("libertarians") querem combater o Socialismo, só no aspecto burocrático para conseguir liberdade para os capitalistas, o empresário liberal pode acabar, se tiver sorte, como um gerente do governante socialista, com a liberdade para ganhar algum dinheiro enquanto controla a vida dos seus empregados.
Ah, não é por acaso que sempre existem aborrecimentos para quem acesse pornografia na internet, fofocas de janela sobre a vida alheia ou criminalização da prostituição em todos os lugares onde existem câmeras de vigilância, spywares, filtros na internet, postagens que desaparecem sem aviso, bloqueios nacionais para pornografia. O totalitarismo, como é o Socialismo, é aliança da intromissão estatal com a estupidez e a frustração da parte medíocre da população. E esta frustração sempre vem de homens recebendo pouca amabilidade do universo feminino ou de mulheres exigindo mais do que merecem do universo masculino, e ambos produzem um comando de repressão da alegria alheia.
Apêndices
"Mulher faz sexo com motorista e cobrador dentro de ônibus no DF", Não Conto!, 10 de maio de 2015. Disponível em http://www.naoconto.com/2015/05/mulher-faz-sexo-com-motorista-e-cobrador-dentro-de-onibus-no-df.html.
Mulher faz sexo com motorista e cobrador dentro de ônibus no DF
Uma moradora de Samambaia (DF) registrou ocorrência na 33ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal após ter fotos íntimas vazadas na internet. As imagens mostram a mulher fazendo sexo dentro de um ônibus com dois homens vestidos com uniformes de rodoviários, supostamente cobrador e motorista.
As fotos foram compartilhadas no Facebook, Instagram e WhatsApp com a suposta identificação da vítima. Internautas reconheceram a logomarca no uniforme dos rodoviários, e dizem que os homens são funcionários da Viação Pioneira.
Veja as FOTOS e VIDEO baixo…
FOTOS:
VIDEO:
"Dobra roubo a ônibus, mesmo com câmeras", Diário da Região, São José do Rio Preto (SP), 11 de fevereiro de 2012. Disponível em http://acervo.diariodaregiao.com.br/novoportal/Noticias/Cidades/87248,,Dobra%20roubo%20a%20onibus,%20mesmo%20com%20cameras.aspx.
'Big Brother' inútil
Dobra roubo a ônibus, mesmo com câmeras
O número de assaltos a ônibus que fazem o transporte coletivo em Rio Preto dobrou depois da instalação das câmeras nos veículos e nenhum caso foi solucionado pela Polícia Civil, a partir das gravações. As câmeras foram instaladas nos coletivos em novembro de 2011 e desde então foram registradas 16 ocorrências. Já no quadrimestre anterior às câmeras foram oito roubos.
Todos os crimes ocorridos depois da colocação dos equipamentos de vigilância foram concentrados nas linhas operadas pela Expresso Itamarati, que atende as regiões leste e norte de Rio Preto. De acordo com o delegado titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Rio Preto, Rubens Machado Cardoso Júnior, as câmeras ajudam na identificação dos criminosos, porém é preciso que a polícia conheça os marginais para fazer a identificação. "Só ver o rosto não ajuda muito, mas caso ele tenha outras passagens pela polícia e conste em nosso banco de dados, pode ajudar", diz o delegado, que traça um perfil dos autores.
"Esses assaltos são realizados, na maioria das vezes, por adolescentes viciados em drogas que roubam para sustentar o vício e não podem ser presos. Depois de levados para a delegacia, são soltos e então o crime continua." O delegado diz ainda que as câmeras podem ajudar a diminuir o número de assaltos, mas o tempo de funcionamento é muito curto para essa avaliação. "Ainda não deu pra sentir se diminuiu ou aumentou o número de ocorrências, precisamos de pelo menos um ano para analisar esses números."
Insegurança
A maioria dos motoristas e cobradores das empresas concessionárias do transporte público de Rio Preto, Circular Santa Luzia e Expresso Itamarati, não se sente mais seguros com a colocação das câmeras. "Isso não adianta nada, o cara que rouba ônibus está sempre muito drogado e não liga se está sendo filmados ou não. O cara entra pra roubar R$ 15 ou R$ 20. É só pra comprar droga", afirma o motorista Clarindo Aparecido Main, 65 anos, que percorre as linhas Duas Vendas, Jardim Nunes e Solo Sagrado, na zona norte.
Main conta que trabalha na Santa Luzia há 20 anos e que neste período já foi assaltado 12 vezes. Em uma das ocorrências foi baleado pelo bandido. "A sensação de ser assaltado é muito ruim. Quando estamos no ônibus não temos muito o que fazer, apenas obedecer o que eles pedem e rezar para que não atirem", afirma
Jailson Vital da Silva, que faz a linha Vila Toninho, também não acredita que as câmeras possam ajudar na diminuição dos crimes. "O cara que quiser roubar vai entrar e pronto". Já Reginaldo Marques, que percorre a linha Jaguaré, pensa o contrário. "A câmera ajuda. Quando a pessoa vê que está sendo filmada muda o comportamento e pensa duas vezes antes de tentar alguma coisa".
Novo modelo pela metade
A instalação das câmeras nos ônibus de transporte coletivo de Rio Preto faz parte de uma série de mudanças na concessão do serviço na cidade. O atual modelo contempla ainda a reforma do terminal central, a construção de novos miniterminais e a instalação de corredores exclusivos para ônibus na área central, o que ainda não aconteceu. Os ônibus das empresas Expresso Itamarati e Circular Santa Luzia possuem três câmeras em cada um, sendo uma na frente, outra na catraca e a última no fundo do coletivo.
O serviço conta com 217 ônibus ao todo, entre eles 52 básicos, com capacidade para 90 passageiros; 106 midiônibus, para 70 usuários; e os miniônibus, para atender até 48 passageiros. Todos são equipados com Sistema de Posicionamento Global (GPS), câmeras de segurança e rampa para acesso de deficiente físico. A licitação para o transporte coletivo em Rio Preto foi dividida em dois lotes - R$ 7,1 milhões para a Circular Santa Luzia e R$ 3,9 milhões para a Itamarati. A maior fatia, que concentra 35 linhas, pertence à Santa Luzia, e o segundo, de 20 linhas, à Itamarati. A concessão é válida por dez anos.
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