Introdução
Há três meses e meio eu estou escrevendo especificamente sobre como a direita cristã está morrendo. Até o fim da década de 2000, as grandes conquistas da direita cristã pelo menos no Brasil e nos Estados Unidos foram, a grosso modo, entregar à esquerda quase todas as pessoas que não têm problemas com a sexualidade (a própria e a alheia) e dar aos líderes carismáticos de esquerda como Lula e Barack Obama os votos dos seus próprios subordinados ou empregados.
O caso brasileiro é mais óbvio: a militância esquerdista tirou quase todo o espaço intelectual da direita, especialmente a direita cristã, nas artes, na imprensa e nas universidades. E fez isso tanto envergonhando a direita cristã por abordagens honestas quanto tirando o espaço dela de formas desonestas. A direita cristã quase se resume a nostalgia da vida interiorana do século XIX, paranóia antissexual e ufanismo de burgueses de terceira geração, tudo isso mais uma disputa de egos interna e um certo medo de ler a verdade. Como a quase totalidade do meio direitista-conservador é tanto vítima de neutralização esquerdista quanto limitada intelectualmente pelos seus próprios clichês, a direita é intelectualmente e culturalmente pouco expressiva, e só ficou visível de menos de dez anos para cá porque a militância esquerdista fez sandices demais para não ser criticada publicamente. Mas isso não significa, como já expliquei em "Direita cristã, acabou! - parte 1", que a direita possa entrar onde a esquerda foi desmoralizada. Só para ficar em exemplos recentes:
1) Na década de 2000 depois do 11 de Setembro, vários direitistas defenderam o Islamismo como solução contra o Feminismo. O erro é triplo: ver a frigidez da própria bisavó como grandeza moral, enxergar uma devassa em cada moça que use qualquer roupa que não cubra do ombro ao joelho e associar o Feminismo a uma liberação sexual heterossexual feminina que está longe de existir. Quando o terrorismo no Ocidente e os assassinatos de cristãos nos países muçulmanos ficaram alarmantes, eles começaram a se dar conta.
2) Muitos cristãos aplaudem a censura à pornografia na internet no Reino Unido, sob determinação governamental. Mas não só lesbofeministas têm espaço em grandes jornais ingleses, páginas que criticam o Islamismo são bloqueadas também em redes wi-fi de bibliotecas públicas sob o pretexto de serem pornográficas.
3) Intervenção militar no Brasil: havia mais de um ano que eu mesma dizia que ela não aconteceria, então as Forças Armadas intervêm para desfazer bloqueios feitos na greve de caminhoneiros contra o governo. Antes disso, alguns militares de alta patente aceitaram participar do desfile de Sete de Setembro feito com uma plateia seleta isolada por muros de aço. Até hoje, alguns paspalhos pedem "intervenção militar" em comentários curtos no Facebook.
Estes exemplos ilustram o maior descrédito possível para uma corrente científica ou filosófica e que acontece com a direita cristã: a falha de previsão. A direita cristã prevê a legalização da pedofilia, a oficialização da prostituição ou o fim da família tradicional até hoje do mesmo jeito que fazia há dez ou vinte anos atrás, enquanto a esquerda trabalha de verdade trazendo surpresas. Pra piorar, parece que muita gente na direita tem horror ou pouca consideração a quem acerta.
E por que eu estou dizendo tudo isso antes de comentar sobre Sara Winter? Esta confusão intelectual na direita é o que tornou possível que ela pudesse ter entrada no meio direitista, inclusive recebendo apoio de Olavo de Carvalho e ganhando uma entrevista na página do Instituto Liberal.
Notas
01) Eu escrevi há exatos dois anos:
"Algumas feministas estão se desentendendo com outras feministas. Elas conseguem conviver nos fóruns divergindo timidamente em pontos periféricos, como aborto ou serviço militar. Talvez até isso seja um front de guerra ainda nessa década."
("A hora de fechar a arca - parte 2", http://avezdoshomens.blogspot.com/2013/11/a-hora-de-fechar-arca-parte-2.html)
Foto de Sara Winter
19 de novembro às 18:15 · São Carlos
SOCORRO!
Acabei de receber uma mensagem no inbox de uma pessoa dizendo pra eu fazer uma página reserva por feministas e pessoas do movimento LGBT estão se organizando para derrubar minha página.
Então é isso? Eu não posso expor minha opinião? Não sou livre pra isso?
Eu tenho falado nos meus últimos textos sobre minha experiência pessoal com aborto e porque não desejo isso à ninguém, falei da postura das feministas que acabam sendo agressivas com outras mulheres ao invés de explicar as coisas com respeito e calma, falei também sobre minha opinião com relação á naturalização da palavra "vadia", e sobre dinheiro público gasto com coisas que a maioria da população não aprova.
Agora estou sendo alvo de organização de feministas e gays para me silenciarem.
E digo mais, se isso acontecer, se minha página cair, eu escrevo um livro contanto todas as merdas do movimento feminista, coisas que as pessoas nem imaginam que realmente exista.
Gente, se a page cair, alguém sabe me falar como proceder para recuperá-la?
Muito triste isso com essa perseguição, DEIXEM EU E MEU BEBE EM PAZ.
(https://www.facebook.com/abigail.pereira.aranha.91/posts/717055135092697, 20 de novembro às 20:10, compartilhando a postagem em https://www.facebook.com/sarawinter13/photos/a.148917918651997.1073741827.148916071985515/428040147406438)
02) Essa é pra quem está animado com a conversão da Sara Winter (até parece que vocês caíram). Comentei no original:
Você ainda não entendeu nada? Qual das práticas que você citou não é crime previsto na legislação brasileira desde o tempo do Império? Sim, o Feminismo é uma ideologia lésbica, ególatra, autoritária, misândrica e genocida. Você consegue escrever no estilo feminismo paz e amor NA SUA PÁGINA, ou nas nossas. Cadê as boazinhas do seu círculo antigo?
Por sinal, eu escrevi há exatos dois anos:
"Algumas feministas estão se desentendendo com outras feministas. Elas conseguem conviver nos fóruns divergindo timidamente em pontos periféricos, como aborto ou serviço militar. Talvez até isso seja um front de guerra ainda nessa década."
("A hora de fechar a arca - parte 2", http://avezdoshomens.blogspot.com/2013/11/a-hora-de-fechar-arca-parte-2.html)
Foto de Sara Winter
19 de novembro às 20:15
Galera linda, eu não sou "ex feminista", eu sou feminista de verdade ou pró mulher, como preferir.
Feminismo não é guerra de sexo, não é a supremacia feminina sob os homens e nem ofensa às mulheres que não querer trilhar esse caminho.
Feminismo é sobre lutar por políticas públicas para as mulheres como: o fim da violência obstétrica, abolição de práticas como exploração e turismo sexual, tráfico internacional de mulheres e crianças, violência doméstica, estupros, entre outros males.
(https://www.facebook.com/abigail.pereira.aranha.91/posts/717061405092070, 20 de novembro às 20:54, compartilhando a postagem em https://www.facebook.com/sarawinter13/photos/a.148917918651997.1073741827.148916071985515/428038620739924)
03) 11 de dezembro às 13:38: "Robson Otto Aguiar compartilhou um link" (um vídeo com fala dele): "Sara Winter: A Vadia Oportunista!" (https://www.facebook.com/robson.otto.aguiar/posts/1067239546627646, compartilhando o vídeo em http://www.dailymotion.com/video/x3hrijy)
Sara Winter, 11 de dezembro às 15:43:
@OdeCarvalho Oi, prof. Olavo! Tudo bem? Me ajudar a divulgar minha luta contra o feminismo? Winter is comming... http://www.sarawinter.com.br
https://twitter.com/Sara13Winter/status/675460991300292616
Olavo de Carvalho, 15 de dezembro às 14:46:
.@Sara13Winter Você é corajosa e sincera. Tem toda a minha admiração. Conte comigo para o que der e vier.
https://twitter.com/OdeCarvalho/status/676896256577445889
Olavo de Carvalho, 11 de dezembro às 23:08:
O único discurso aceitável que pode sair da boca de um comunista arrependido é este:
-- Eu sou um filho da puta, um trapaceiro desprezível. Ajudei a enganar todo mundo e me achava lindo fazendo isso. Eu só mereço é chutes no cu, mas, se vocês me pouparem, prometo passar o resto da minha vida lutando para destruir o monstro que ajudei a criar.
No dia em que algum Bicudo, Martha Suplicy ou Luciana Genro fizer um discurso como esse, acreditarei que se arrependeram e não vão fazer merda de novo.
https://www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/10153755208587192
04) Sara Winter:
Gente, tem alguém aí que consegue me colocar em contato com o padre Paulo Ricardo? Vi que ele fala sobre marxismo cultural e queria trocar umas ideias com ele. Tem como? #WinterIsComing
Sara Winter, 13 de dezembro às 18:16 em https://twitter.com/Sara13Winter/status/676224187904729088 e 14 de dezembro às 00:16 em https://www.facebook.com/sarawinter13/posts/433982290145557.
05) Comentário de um amigo no meu perfil:
Andre Eusebio Aquilo que eu acho é que realmente uma coisa é dar valor á "conversão" que pode ter muitos beneficios para desmoralizar até as demais feministas, outra coisa é a Sara Winter passar a ser uma espécie de referencia para a direita so porque há um ano atras era uma retardada mental.
06) Olavo de Carvalho, (também) defendendo a moça: "A maior contribuição do moralismo sexual ao mundo é demolir o senso das proporções e, portanto, abolir o Primeiro Mandamento." (16 de dezembro de 2015 às 05:15, https://www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/10153764347662192). Está certo, professor, mas eu mesma já tento mostrar isso desde 2006. Por exemplo, em "A criminalização do sexo", abril de 2007. Por que só tocamos neste assunto agora?
07) Agora, não apenas a srta. Sara Winter ganha espaço em páginas de direita como a do Instituto Liberal ("ENTREVISTA – Sara Winter, feminista e fundadora do Femen", http://www.institutoliberal.org.br/blog/entrevista-sara-winter-feminista-e-fundadora-do-femen). A Folha de São Paulo também trouxe u'a matéria com ela hoje: "Ex-militante do Femen lança livro sobre desilusão com o feminismo", http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/12/1719555-ex-militante-feminista-lanca-livro-sobre-desilusao-com-o-movimento.shtml
08) Tudo isso ainda confirma o que eu disse em "A liberdade sexual, a pornografia e a legalização da prostituição não vão levar a sociedade à ruína, só a direita cristã", ainda um mês antes da conversão dela.
09) Olavo de Carvalho Muita gente fica com nhem-nhem-nhem contra a Sara Winter e o Alexandre Frota por causa disto ou daquilo que fizeram no passado. Pois eu aplaudo os dois pelo que estão fazendo no presente -- e confio que farão muita coisa boa no futuro.
15 de dezembro às 21:35
Paulo Briguet Olavo, entrevistei a Sara Winter para a Gazeta do Povo. A matéria deve sair nos próximos dias. Como foi o contato de vocês?
16 de dezembro de 2015 às 01:32
Sara Winter Professor, muito obrigada! Espero daqui pra frente fazer a diferença, mais uma vez obrigada por abrir meus olhos. Seguimos juntos nessa luta. Emoticon heart
15 de dezembro às 23:10
Salomão Domingos Não tenho nada contra nenhum dos dois, mas não os considero porta vozes, muito menos representantes de nada na direita. No meu entender, a direita brasileira, entendida como o povo que incorpora um conjunto de ideias só recentemente compreendidas, depois de difundidas por Olavo de Carvalho, tem pouquíssimos representantes dignos do nome. E infelizmente, essa mesma direita, continua preferindo dissidentes da esquerda apenas por acharem "mais notórios". Sara Winter e Alexandre Frota merecem no máximo um "valeu cara, nós apreciamos sua mea culpa (se é que fizeram isso de fato), mas nós vamos aqui ouvir o Percival Puggina, A Gracita Salgueiro, um pessoal que a gente já conhece". Então, sentem aí, calem a boca e aprendam. Mas seria esperar maturidade demais.
15 de dezembro às 23:09
(https://www.facebook.com/olavo.decarvalho/posts/10153763849077192)
10) Que coisa chata! Eu vejo o Olavo de Carvalho dando as boas vindas à Sara Winter em nome da fé de que ela fará "muita coisa boa no futuro". Pode até ser verdade, mas eu devo ter dito em 2013 ou 2014 que o antifeminismo poderia receber em breve pessoas que teriam não de contribuir para a luta, mas de desfazer a contribuição que elas deram individualmente à causa inimiga. E ex-vadia e ex-militante feminista não têm passado, têm histórico. Nos comentários da postagem original, o Salomão Domingos comenta que a direita está dando preferência a ex-esquerdistas só porque eles seriam mais notórios. Isso me lembrou o que se diz que as igrejas evangélicas gostam de ex-drogados, ex-bandidos, ex-bruxos, ex-putas, ex-homossexuais.
Três horas depois, eis o ponto, eu compartilhei a postagem do Olavo e com minutos de diferença, e eu nem vi,
1) O amigo Emerson Eduardo Rodrigues me marcou na postagem do Profissão Repórter sobre a matéria com entrevista com a Lola Aronovich, e ele já meteu muita real lá logo antes;
2) O amigo Bradon Kamato comentou o meu compartilhamento lembrando a minha série "A hora de fechar a arca", de dois textos, de novembro de 2013.
O ponto que me chamou a atenção é que eu fui lembrada. Estes amigos conhecem o meu trabalho. Eu nem sou da direita, eu sou anarquista; eu não sou moça de família, eu sou a maior galinha de que eles já tiveram notícia. Mas eu sou antifeminista e antissocialista, e tenho um trabalho neste sentido, um trabalho também pelos homens que prestam. E é por isso que estes e outros amigos se lembram de mim, e por isso também que eu faço novos amigos conservadores. E o engraçado é que nenhum desses meus amigos se lembra de Ana Caroline Campagnolo ou Luana Basto quando pensa em uma mulher antifeminista. Obrigada, amigos!
(https://www.facebook.com/abigail.pereira.aranha.91/posts/725801224218088, 16 de dezembro de 2015 às 03:02)
11) Este texto foi publicado ontem até a nota 08. Um amigo fez um belo comentário e eu publico aqui o comentário e a minha resposta:
Fernando Machado Acompanhando o rastro da conversão da radical, parece que nesse momento ela está no primeiro contato em que tudo é marxismo cultural e que a militância dela era funcional e não operacional. Olavo vem pontuando tanto ceticismo às figuras de Bicudo e todos os dissidentes da esquerda nas manifestações de rejeição ao governo, mas diante de uma dissidente do feminismo não. Talvez esteja separando o jogo político das ratazanas gordas do entusiasmo dos ativistas, considerando aquela máxima que Roberto Campos reproduzia: 'se aos vinte anos vc não é comunista, vc não tem coração, se aos trinta vc continua comunista, vc não tem cérebro' - ou algo assim. Ela já sacou que redutos feministas vão comprometer a nova postura de vida dela com tantos elementos do "patriarcado": Filho, monogamia, marido, família, quintal, maternidade. A direita cristã adora trabalhar com ex-alguma coisa, é o testemunho da transformação em algo "melhor", vão usar clichês assim como estandartes - acho que ninguém aê tá dando ponto sem nó.
Abigail Pereira Aranha Bom, gatinho, obrigada pelo comentário, você disse muito bem e eu tenho até que revisar o meu texto porque algumas coisas não ficaram claras. Entre elas, algumas que você disse:
1) Se o Olavo está mesmo "separando o jogo político das ratazanas gordas do entusiasmo dos ativistas", é mais um erro dele. O primeiro usa o segundo. E o segundo usado pelo primeiro produz resultados para o primeiro. O que a Sara Winter fez no FEMEN? Já disseram pra ela pichar o Cristo Redentor, ela se recusou porque ela mesma achou muito sem noção. Mas e as bagunças que ela fez? Agora que ela saiu, ela vai atuar onde? Vai vender o livro, quem vai comprar somos "nós" e mais o quê? Vai dar palestra em igreja que o pastor ou padre é mais feminista que ela?
2) A maioria da direita cristã gosta de ex-marxista, ex-drogado, ex-bandido, ex-satanista, ex-puta, ex-homossexual. Como, aliás, o meio cristão. Com isso, deixa de notar os que nunca se desviaram. Eu vi a recepção à srta. Sara Winter e pensei em mim. Eu tenho centenas de amigos e leitores de direita, mas eu fui quase ignorada até entrar no Facebook. Será que eu vou ter que me arrepender da minha vida de moça desfrutável pra ter espaço na direita cristã?
Só uma correção: você disse que ninguém aí está dando ponto sem nó. A direita cristã está. A esquerda moderada pode ter um ás na mão para, como diria o próprio Olavo, se limpar na própria sujeira. A direita cristã vai lavar o passado de uma vadia em fim de carreira só pra ganhar um pouco da atenção da "mainstream media", dos manginas e de outras ex-vadias.
E um outro problema, que eu abordei em outubro e, por acaso, o próprio Olavo abordou recentemente no artigo "Intimação": no fim das contas, a esquerda vai assumir o monopólio da moral, além de todo o espectro de pensamento possível. Sara Winter pode até se converter à direita, mas será uma ex-feminista. É como se a luta contra o feminismo esquerdista louco fosse uma facção do próprio feminismo esquerdista.
(https://www.facebook.com/abigail.pereira.aranha.91/posts/726101427521401, 17 de dezembro de 2015 às 00:05)
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