Sem destinação adequada, nova sacola não faz sentido
Pesquisador diz que sem coleta seletiva e usinas de compostagem, "é jogar comida no lixo"
Ana Paula Pedrosa
Publicado no Jornal OTEMPO em 01/05/2011
Primeira capital brasileira a abolir por lei a sacola plástica de todo o comércio, Belo Horizonte pode ter escolhido a alternativa errada para evitar danos ao meio ambiente. Desde o dia 18 de abril, o único plástico permitido na cidade é o compostável. A sacolinha, que leva amido de milho na composição e deve se biodegradar em 180 dias, pode não trazer todos os benefícios prometidos, caso não tenha a destinação adequada.
Vantagens questionáveis. "A compostável seria adequada se existe coleta seletiva e usina de compostagem. Sem isso, o que estamos fazendo é jogar comida no lixo", diz o diretor da Res Brasil, Eduardo Van Roost. A Res fabrica embalagens, inclusive as compostáveis, para 300 empresas no país.
Segundo ele, que estuda plásticos há 12 anos, o mais adequado às condições brasileiras é o plástico oxibiodegradável, que se decompõe em 24 meses e, ao contrário da sacolinha compostável, pode ser reciclado. Além disso, cada sacola oxibiodegradável custa cerca de R$ 0,03, enquanto a compostável sai a R$ 0,19, seis vezes mais cara.
"(A compostável) É uma tecnologia fantástica para a Dinamarca, para a Alemanha, países que têm logística reversa (estrutura para recolher e destinar corretamente o lixo). Para as nossas condições, não serve", concorda o proprietário da EcoSigma, Fernando Figueiredo, que é mestre em compostagem e gestão ambiental, e fez pós-graduação sobre o tema na Alemanha.
Figueiredo explica que, fora do ambiente adequado para compostagem, a sacola tida como ecológica segue processo de decomposição similar ao da oxibiodegradável. "Estão vendendo um engodo para a sociedade", diz.
Eduardo Van Roost conta que o plástico compostável é o único aprovado pelo decreto municipal de Belo Horizonte porque esse decreto que regulamentou a lei adotou a NBR 15448-2:2008, que trata de compostagem. Se a norma adotada fosse referente a biodegradabilidade, outros materiais também seriam permitidos.
O coordenador do curso de pós-graduação em engenharia mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Antônio Ávila, diz que ainda não estudou as sacolas compostáveis, mas afirma que as oxibiodegradáveis não provocam danos ambientais que justifiquem a sua proibição. "Elas são uma opção", afirma.
Antônio Ávila ainda questiona o fim da distribuição de embalagens nos supermercados, já que a população terá, invariavelmente, que comprar sacos plásticos para lixo. "A cidade inteira vai ter que comprar os sacos à base de petróleo", diz.
O engenheiro sanitarista Hiram Sartori também não estudou ainda as sacolas compostáveis, mas faz ressalvas à proibição de outros plásticos que não o biodegradável, e, mais ainda, à venda das sacolas.
"Aquele saco de lixo que as pessoas vão comprar é biodegradável? Não. Então, vai piorar tudo", diz. Ele também lembra que a sacola compostável, apesar de biodegradável, não deixa de ser plástico. "No nosso cenário, ela vai se desmanchar e gerar uma porção de partículas que, alguns estudiosos argumentam, ainda é plástico", diz.
A gerente comercial da Extrusa, fabricante da sacola compostável, Gisele Barbin, diz que o material se transforma em adubo em qualquer circunstância, mas afirma que, quando destinada a aterros, não é possível precisar o tempo de decomposição.
Teste. A EcoSigma fez um teste simples com as sacolas oxibiodegradável e compostável (veja abaixo). Fernando Figueiredo pendurou em um varal as duas sacolinhas em dezembro do ano passado. Elas ficaram expostas ao tempo e, cinco meses depois, a oxibiodegradável tinha virado pó, enquanto a compostável continuava inteira, apenas rasgada pelo vento.
O teste foi feito quando as datas de fabricação das sacolas já indicavam que estavam perto de iniciar o ciclo de degradação.
Na semana passada, a Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Câmara Municipal de Belo Horizonte pediu ao Procon que investigue se a sacola compostável realmente se desmancha no prazo prometido.
PEDROSA, Ana Paula. Sem destinação adequada, nova sacola não faz sentido. O Tempo, Belo Horizonte, 01 de maio de 2011. Disponível em http://www.otempo.com.br/otempo/acervo/?IdEdicao=2017&IdNoticia=169943. Acesso em 10 de maio de 2011. Negrito no original, itálico nosso.
Meus comentários
Fora o fiasco da sacola, ainda há denúncias de cartel na venda.
Vejamos aqui a clássica regulamentação totalitarista da vida do cidadão comum que parece piada. Mesmo que o pouco de muitos seja significativo, a coisa está virando molecagem. Vamos salvar o planeta, mas sem esquecer que o homem está dentro.
Abigail Pereira Aranha
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