segunda-feira, 13 de maio de 2013

Barack Obama elogia a beleza de uma procuradora-geral e tem que pedir desculpas: já decretaram o apartheid lésbico e não ficamos sabendo?

Abigail Pereira Aranha

Há pouco eu li o texto "O Feminismo nosso de cada dia: Gerald Thomas, Barack Obama e os limites da patrulha moralista", em http://era.org.br/2013/04/o-feminismo-nosso-de-cada-dia-gerald-thomas-barack-obama-e-os-limites-da-patrulha-moralista, compartilhado no Facebook e tive que comentar. Confesso que não estava sabendo dos dois casos de que o texto fala. O primeiro é do presidente dos Estados Unidos Barack Obama fazendo um comentário sobre a procuradora-geral da Califórnia: além de brilhante, dedicada e dura na administração da lei, Kamala Harris é "a mais bonita procuradora-geral do país". O segundo é do escritor Gerald Thomas tentando passar a mão na Nicole Bahls em uma entrevista. Vou me concentrar no primeiro. As feministas encheram o saco do Obama e ele teve que pedir desculpas para a moça.

Agora vem cá: dizer pra uma mulher que ela é bonita ou sexy é tratá-la como objeto? Para uma lesbonazista é, e esse caso mostra isso. Uma mulher pode ser boa profissional? Pode. Uma mulher pode ser forte? Pode. Uma mulher pode ser inteligente? Pode. Um homem pode reconhecer as qualidades que uma mulher tem? Pode. A não ser que as qualidades sejam físicas. Nós já falamos disso há menos de um mês: "Você deve respeitar ou admirar uma mulher quando ela tenta se parecer com os homens, mas está rebaixando essa mulher quando a olha como mulher, ou ela desmoraliza a si e às mulheres quando se parece com uma mulher". Ah, e quando um homem machista elogia a competência profissional de uma mulher objeto?

E logo antes, eu vi que um amigo compartilhou no Pensão Alimentícia Um Roubo o caso de um homem que foi preso por um estupro que não cometeu, e que foi condenado sem nem saber que foi julgado. A moça (na época adolescente) estava namorando escondido, alguém disse que ela esteve na casa de um homem que a mãe dela não gostava, a mãe fez a filha inventar o caso de estupro e o homem foi ser preso 13 anos depois quando foi tirar um atestado de bons antecedentes, sem nunca ter sido procurado pelo Judiciário.

E teve aquele caso que compartilhamos aqui de outro homem que ficou preso cinco meses por uma acusação falsa de estupro, porque a mocinha, que era enteada dele, ficou chateada com o homem porque ele não deixou ela dormir com o namorado em casa.

E há algumas horas, a gente comentou que um blogue publicou o Manifesto SCUM há três anos e nenhuma feminista moderada apareceu pra comentar.

São só casos isolados? Ou são exemplos de como qualquer vadia pode mandar um homem inocente para a cadeia só porque falou que foi assediada ou estuprada? E não é só no Brasil.

E isso também serve de lição para quem defende castração química de estupradores e pedófilos. O Soró (do primeiro caso) já foi julgado e condenado pelas costas com uma acusação de estupro vinda do Inferno, ficou preso e teve sorte de sair vivo. E se ele e o outro além de presos, desempregados, marginalizados e humilhados, tivessem sido castrados também, e depois de tudo aparecesse a verdade? É só você homem ser hétero e a primeira coleguinha de trabalho sua que achar que você olhou demais, ou está afim de te tratar como lixo, pode inventar uma estorinha pra polícia, ninguém vai investigar nada direito e você perde uma vida e a sua saúde por nada? Preto pobre não pode ir pra cadeia sendo inocente, mas um homem de bem ser destruído em nome do combate ao estupro é mal menor, né?

Se os homens tiverem de escolher entre as mulheres sexualmente atraentes que assustam e as "normais" (feiosas) bem resolvidas que sabem de tudo, como naquele texto "Ninguém mais namora as deusas mulheres" de um mangina que usa o nome do Arnaldo Jabor, ou ainda as bonitas inteligentes bem resolvidas, os homens não terão por que se relacionar com as mulheres além de um bom dia frio. Em qualquer "comunidade" pobre ou cidade falida com menos de cinco mil habitantes, as mulheres estão cada vez exigindo mais e oferecendo menos. Mas em geral, as mulheres bem sucedidas bonitinhas construíram a sua bela trajetória usando a beleza e até alguma simpatia de alguma forma (não digo namorar por interesse ou transar com chefe ou professor), então o feminismo e as mulheres medíocres estão envenenando a terra de onde tiram o alimento. Vamos ter mulheres bonitas bem sucedidas vendo que os homens têm medo de se aproximar delas, mulheres bem resolvidas com carro estragado sem um homem para ajudar, puritanas com saudades do tempo em que um homem ajudava uma mulher com dificuldades com a bagagem. É o que elas merecem. Que elas se vejam rodeadas de eunucos com menos status social, mulheres hostis e homens que se cansaram de ser héteros bonzinhos e estão achando é pouco.

O que ferve o sangue é que lésbicas e gays podem juntar aos milhares pra fechar avenida e se beijar na nossa cara, e ainda dizendo que 336 homossexuais assassinados em um ano em um Brasil de 190 milhões de habitantes e 50.000 homicídios é uma crise de homofobia. Mas basta um homem olhar para uma mulher fisicamente agradável com mais atenção, e ele é no mínimo indelicado. Depois a gente diz que o feminismo é um movimento de macacas lésbicas e vem algumas dizendo que existem feministas héteros.

O Feminismo nosso de cada dia: Gerald Thomas, Barack Obama e os limites da patrulha moralista

Dois episódios recentes colocaram em debate a imagem da mulher na sociedade atual. No início do mês, o presidente norte-americano Barack Obama fez um comentário sobre a procuradora-geral da Califórnia que o deixou em situação complicada, sobretudo com algumas feministas. Após elogiar a competência da aliada de longa data, o presidente finalizou com um galanteio: além de brilhante, dedicada e dura na administração da lei, Kamala Harris é “a mais bonita procuradora-geral do país”, afirmou Obama. Com a má repercussão da sua fala, Obama ligou para pedir desculpas pelo comentário e ressaltar que jamais tentou diminuí-la como procuradora-geral.

Já aqui nos trópicos, o episódio foi mais apimentado. Em noite de autógrafo de seu livro, Gerald Thomas improvisou uma cena antológica com a nova repórter do programa Pânico na Tv, Nicole Bahls. A moça, de corpo escultural e vestida de modo a valorizar sua beleza, precisou se esforçar muito para evitar que o autor e diretor teatral enfiasse a mão por baixo de seu vestido, supostamente para conferir se tratava-se realmente de uma mulher.

As fotos que circularam nas redes sociais, antes mesmo do programa ir ao ar, causaram enorme repercussão. Interpretadas fora do contexto, mostram uma repórter evidentemente constrangida tentando se desvencilhar de uma situação absurda. Assim como Obama, Gerald Thomas também viu-se obrigado a responder às críticas, mas, ao contrário do presidente galanteador, sua explicação acabou por lançar mais lenha na fogueira, ao definir como moralistas e hipócritas os discursos que criticaram sua ação.

Esses dois recentes acontecimentos apontam para importantes reflexões sobre a questão do feminino na sociedade atual. Os avanços diante da desigualdade de gênero, de fato, são imensos e contundentes por evidenciarem violências costumeiras contra a mulher e garantirem uma ampliação da atuação feminina no mundo. Também sabemos que a remodelação por qual passaram os valores morais ao longo dos anos fez-se necessária para que a dimensão da sexualidade e de temas afins pudessem ganhar um espaço mais saudável em nosso mundo.

Contudo, as fronteiras entre o moralmente correto e o moralmente incorreto dentro deste contexto ainda são extremamente nebulosas: será que uma “patrulha” contra qualquer ato que soe “machista”, como o elogio de Obama, justifica-se como forma de garantir o empoderamento da mulher? Por outro lado, gestos mais “escancarados” como de Gerald Thomas estão imunes à crítica pelo risco desta soar antiquada e falso moralista?

Essas perguntas ainda são difíceis de serem respondidas…

Retomemos, agora, às notícias supracitadas. Primeiro, o caso de Nicole Bahls e Gerald Thomas. Dentre as inúmeras discussões travadas sobre o ocorrido, algumas apontam para o gesto de Gerald como uma forma de evidenciar a “objetificação” da mulher, uma maneira performática e teatral de reagir diante do programa Pânico na Tv, nacionalmente conhecido por irritar seus entrevistados com perguntas capciosas. Na entrevista concedida após o ocorrido, o polêmico diretor teatral afirma:

“Eu, Gerald Thomas, faço a olho nu, na frente dos fotógrafos, das câmeras, das luzes, o que esse bando de carecas e pseudo moralistas gostaria de estar fazendo atrás de portas fechadas, com as luzes apagadas!

EYES WIDE SHUT

End of Story.

Somos todos da classe teatral e nossa função é apontar as VOSSAS falhas. E se VOCES se revoltam TANTO, então, já fico contente porque os alertei pra alguma coisa. O que? SIM:

1- a mulher não é um objeto. Mas não deveria se apresentar como tal

2- E os homens jamais deveriam se utilizar desse objeto de forma alguma”

Todavia, fica a pergunta se, de fato, podemos ler este ato somente de maneira performática e crítica, desconsiderando a sua dimensão agressiva. E pelo que parece, informações nos faltarão para conseguirmos chegar a uma conclusão. O vídeo no youtube disponibilizado pelo programa Pânico na Tv deixa em aberto algumas dúvidas. Ele mostra Gerald Thomas indo para cima dos outros dois entrevistadores homens (um deles vestido como mulher) e eles rapidamente se defendendo e impedindo o assédio. Em seguida, ele vai em direção a Nicole Balhs para investigar se a moça tinha realmente “Bahls”, como seu sobrenome sugeria. Nesta hora, onde tudo parece poder ser esclarecido, ocorre uma edição do programa e outras cenas começam a ser mescladas, com comentários de um psicólogo e uma entrevista de Gerald falando do ocorrido. Desta forma, não foi possível ver a cena por completo. Os responsáveis pelo programa acusam a imprensa de manipulação de informação, mas, por alguma razão, escolheram também selecionar as imagens que foram para o ar…

As declarações de Nicole Bahls em seu twitter foram confusas. Em um primeiro momento, parece ter dito “Fiquei muito triste com isso. Obrigada de coração [pelo apoio], amanhã é outro dia, vai passar”. E em seguida: “Pensei um pouco e acho que faz parte do personagem. É uma oportunidade que estou tendo de voltar e isso faz parte do programa. Tenho que começar a separar o personagem da vida real”. E, por fim, disse: “É horrível. Para uma mulher, mais ainda”.

Esta indecisão em seu depoimento pode ser em decorrência de várias razões, mas ficamos com a impressão de que ela se sentiu bastante incomodada com o acontecido, mas logo depois se corrigiu, preocupada em perder a oportunidade de trabalho recentemente conquistada.

Essa confusão da mulher quanto aos próprios sentimentos traz à tona a denúncia feminista: será que estamos novamente sendo cúmplices da cultura silenciosa da violência contra a mulher que, uma vez objetificada, não consegue nem mesmo reconhecer seu opressor?

Citando novamente Gerald Thomas:

“Vem uma menina, de (praticamente) bunda de fora, salto alto de “fuck me”, seios a mostra, dentro de um contexto chamado PÂNICO e eu (que não deixo me intimidar e gosto desse pessoal) entro no jogo e viro as cartas – e os intimido !”.

Vestes sensuais justificam que uma mulher seja atacada? Isso não parece evidenciar nada mais do que qualquer valor machista usual. Concordamos que é preciso “escancarar” o que está diante de nossos olhos, porém ainda alienado, mas não parece que esta justificativa seja algo que subverta o status quo.

E é aqui que podemos nos aproximar do outro evento citado neste artigo, que foi o elogio do presidente americano à beleza da procuradora-geral Kamala Harris. Nada aponta para um gesto agressivo ou humilhante que desmoraliza a mulher e o desfecho com o pedido de desculpas parece até mesmo excessivo, efeito da “ditadura do politicamente correto”.

Por isso, notamos que, sim, podemos nos armadilhar numa vigília moralista contra todo e qualquer ato que possa “diminuir” o feminino, e isso parece ser um engano, já que é importante que tenhamos espaço para o jocoso, o lúdico e, até mesmo, para o galanteio. Mas os exageros do moralismo com os quais ainda nos defrontamos e temos como desafio superar não podem silenciar as críticas na esfera moral. Convocar a dimensão moral não pode ser sempre lida como “falso” moralismo. Sim, ainda precisamos pensar se determinados atos são violentos, agressivos e incorretos sem recair na cilada da ditadura do politicamente correto. Mas a crítica moral não pode ser atacada de modo indiscriminado como discurso a priori hipócrita, representando um atraso para a sociedade. Existem ações que podem ser definidas como moralmente erradas e precisamos pensar sobre suas consequências.

Nesse sentido, a visão “esclarecida” que defende incontestavelmente todos os atos inovadores e subversivos como formas de expressão artística legítima, também pode abrigar os velhos hábitos machistas que perpetuam as velhas práticas patriarcais. Entrelaçadas na linguagem e nos costumes, tais performances podem contribuir para disseminar valores que ainda precisam ser superados, como por exemplo, o discurso que associa as roupas que as mulheres usam com um convite ao ataque masculino. Ao insinuar que, se as mulheres não querem ser tratadas como objeto, então não deveriam se vestir como tal, Gerald Thomas deu o conselho que enfurece qualquer feminista, pois é parte central da “cultura do estupro” que tanto combatem:

“Cuidado com as roupas que você usa, moça bonita!”

Referências:

http://televisao.uol.com.br/noticias/redacao/2013/04/15/panico-exibe-cena-polemica-de-gerald-thomas-e-nicole-bahls-e-critica-sensacionalismo-da-imprensa.htm

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/gerald-thomas-responde-criticas-apos-polemico-episodio-com-o-panico/

http://www.facebook.com/OMachismoNossoDeCadaDia?ref=ts&fref=ts

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