sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Direita cristã, acabou! - parte 22: Lula e Dilma Rousseff NÃO foram derrotados nas eleições de 2016, a direita sim (e ainda tem quem comemore o voto em "ninguém")

Abigail Pereira Aranha

Eu comecei há um ano a série "Direita cristã, acabou!", já dizendo que a esquerda poderia até ser abalada, mas a direita já estava morta, e talvez perceberia isso com o impeachment da Dilma Rousseff. Eu estava concentrada no contexto do Brasil, mas isso valia também para o nível mundial. Foi o que aconteceu nessas eleições municipais.

Vamos começar com a análise do Reinaldo Azevedo:

A derrota do PT em São Paulo é um símbolo da derrocada do partido no país. Em 2012, o partido elegeu 630 prefeituras. Só perdeu, então, para o PMDB e para o PSDB. Agora, de terceiro partido com mais cidades sob a sua gestão, tornou-se o 10º. Quando o DEM, que continua encolhendo em número de cidades, conseguiu apenas 276 prefeitos, há quatro anos, houve quem previsse a sua extinção. Pois bem: o partido de Lula elegeu, desta vez, apenas 256, cinco a menos do que os democratas, que ficaram com 261. De 630 para 256, há um encolhimento de 59,4%.

("PT fica em 10º lugar em número de Prefeituras: 256; era o terceiro, com 630", Reinaldo Azevedo, 03 de outubro de 2016, http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/pt-fica-em-10o-lugar-em-numero-de-prefeituras-256-era-o-terceiro-com-630)



Ele mostra também um gráfico, do G1 com dados do TSE, que eu já vou comentar. Primeiro, vamos para a análise do PT e da senadora Gleisi Hoffmann:

O Partido dos Trabalhadores sofreu derrotas em lugares importantes, na disputa municipal do último domingo (2), mas engana-se quem aponta o PT como o maior derrotado das últimas eleições. "Quem perdeu mais foi a política", avalia a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), já que o grande vencedor do pleito foi "nada mais nada menos do que o... Ninguém!". Em nove capitais brasileiras, nos principais colégios eleitorais do País a soma dos de votos brancos, nulos e as abstenções ultrapassam os 40%, apontando o desencanto do eleitor com o processo.

"O que as urnas disseram é que há um descontentamento imenso com a política brasileira, e isso deve acender um sinal de alerta, um sinal vermelho para todos os partidos políticos, para todos nós que fazemos política, porque é isso que vai estar em discussão e em jogo daqui para a frente", alertou a senadora em pronunciamento ao plenário nesta terça-feira.

("Urnas mostraram descontentamento com a política brasileira, avalia Gleisi", PT no Senado, 04 de outubro de 2016, http://www.ptnosenado.org.br/site/noticias/ultimas/item/55154-urnas-disseram-que-ha-um-descontentamento-imenso-com-a-politica-brasileira-avalia-gleisi)

Vamos pular a parte de que algumas cidades tiveram algum candidato a prefeito com a candidatura suspensa, mas aparecia o nome dele na lista dos candidatos e na urna, depois o eleitor votava nele e a contagem dava o candidato com zero votos. Depois que o PT de Lula e Dilma parou de mostrar o símbolo da estrela e até a cor vermelha na campanha, além de evitar Lula e Dilma, passou de 630 prefeitos eleitos em 2012 para 256. Claro que a senadora disse aquilo pelo vexame que o grupo PT-PCdoB-PSOL passou. O PCdoB teve um crescimento no número de prefeitos de 51 nas eleições de 2012 para 80 nestas. O PSOL teve um crescimento de 100%: de 1 para 2. Somando, de 682 para 338. Mas esse vexame significou um vexame muito maior para a direita.

Primeiro, o PT do Mensalão, do Petrolão, da crise econômica, conseguiu ter 256 prefeitos eleitos. O Brasil tem 5.570 municípios. Portanto, o PT ainda vai governar mais de 4,5% dos municípios. Para dar uma ideia, o PRN do então presidente Fernando Collor teve de mudar de nome depois que ele sofreu impeachment, por acusações de que ele foi inocentado depois de ficar 8 anos inelegível; e esse partido é o atual PTC, que teve 15 prefeitos eleitos. Os anos de retração econômica, maioria de analfabetos funcionais dentro das universidades e desindustrialização foram do governo PT. Com 35 partidos registrados, qual partido sobreviveria se tivesse um governo federal que fosse trágico só na economia? O PT ainda vai governar tipo um Goiás (246 municípios). Segundo, quais foram os dois partidos com mais prefeitos? Justamente os que a militância de esquerda diz que são a oposição. O PMDB, o partido do ex-vice de Dilma Rousseff com 1027, e o PSDB, com 791.

Em 2012, qualquer mequetrefe tinha alguma chance de se eleger prefeito só por ser do PT ou do PCdoB. No material impresso de campanha, aparecia o candidato ou a candidata no meio de uma foto com fundo já pronto com Lula de um lado e Dilma do outro. Dessa vez, não ia dar certo. Mas qual foi o candidato a prefeito pelo PSC que lembrou aos eleitores que era do mesmo partido dos deputados Jair Bolsonaro e Marco Feliciano? O Marco Feliciano é pastor, tem lá a sua notoriedade, mas Jair Bolsonaro é o "mito", é idolatrado em memes pelas redes sociais e é o candidato da direita à Presidência da República em 2018. E como eles explicam ter 87 prefeitos eleitos, cerca de um terço do PT e só 7 a mais que o PCdoB?

E onde está o tal Partido Novo, que também é novo, que defende os valores liberais? Nem candidato a prefeito teve. Mas dos partidos que nem existiam nas eleições de 2012, o Solidariedade, fundado pelo Paulinho da Força, ex-companheiro de militância do Lula, tem 62 prefeitos, a Rede Sustentabilidade, da ex-petista Marina Silva, tem 5 e o PMB, Partido da Mulher Brasileira, tem 3.

Quem diz que "os políticos" são todos corruptos por causa dos escândalos do PT é como uma mulher que foi estuprada uma vez e tem horror a homem o resto da vida. Em última análise, essa mulher se casou com o agressor. A mesma coisa o PT em particular e o esquerdismo em geral conseguiu com a turma do voto burro. Em 2013, tivemos algazarra a pretexto de protestar contra o aumento da tarifa de ônibus, primeiro na cidade de São Paulo, depois pelo Brasil inteiro; e aquilo passou a ser protesto supostamente político, misturando o discurso e a bagunça esquerdista a algumas reclamações do povo de verdade. A "passaginha" baixou, mas no ano seguinte aumentou e Dilma Rousseff foi reeleita, descontando a fraude da apuração secreta, pelos votos da militância na distinta candidata mais os votos brancos e nulos das pessoas "conscientes" que foram figurantes dos protestos.

A militância de esquerda mais o governo federal de esquerda destruíram a educação e a cultura do país. Não estou fazendo aqui o juízo neurótico de quem critica a Educação Sexual nas escolas, nem mesmo estou colocando em questão o funk carioca. A destruição foi da inteligência, da necessidade de qualidade para a produção artística ou de capacidade intelectual para a vida acadêmica e, principalmente, a destruição tanto quanto possível da própria possibilidade do sucesso do que é digno de ser chamado arte, alta cultura, filosofia ou mesmo informação jornalística. Mas o pior, e é isso que eu tenho advertido, é que mesmo os protestos do povo de verdade contra o governo Dilma Rousseff, em vez de fazer aparecer inteligência, foram a abertura da Caixa de Pandora da política. A direita não foi uma opção na introdução da inteligência na vida nacional. O antiesquerdismo mais moderno paquera a década de 60. Não são só os defensores da intervenção militar, é uma legião que idolatra o coronelismo burro e o moralismo analfabeto. As viúvas do Brasil rural correram como piranhas ao sinal de sangue quando viram o governo Dilma Rousseff fazer besteiras e passar vergonha, depois de queimar toda a gordura do trabalho dos antecessores e da situação internacional favorável. Começaram a defender o fim dos direitos trabalhistas, a regulação da sociedade pelo livre mercado, o moralismo católico, etc. E assim como o Feminismo não interessa às mulheres, o africanismo não interessa aos negros ou o Marxismo não interessa aos proletários, o Liberalismo-Conservadorismo também não interessa ao povo de verdade.

Cabe observar que a direita brasileira saiu do impeachment de Dilma Rousseff sem um jornal, uma revista, um canal de televisão, uma emissora de rádio. Uma presidente com 70% de rejeição quando foi afastada para o processo de impeachment saiu da presidência e não tem um jornal impresso contra ela. A militância liberal-conservadora continua sujeita a ser abalada por qualquer lésbica que denuncie uma página ao Facebook ou um vídeo ao Youtube.

Mesmo que essas eleições sejam só municipais, e os políticos tenham sido eleitos para atuações muito localizadas e muito limitadas, podemos afirmar que o pensamento de esquerda continua sem abalo visível. O Liberalismo-Conservadorismo acabou como força relevante e como ideia pensável. A oposição do PT será o debate interno da própria esquerda. Tirando a revolta burra contra "a política" e a ranhetice de vacas caipiras que nunca tiveram um orgasmo na vida. Ah, e na campanha presidencial de 2014, segundo turno, eu flagrei: vários pares de cavaletes um com a foto da Dilma Rouseff e outro com a foto do Aécio Neves, o cavalete do Aécio derrubado e o da Dilma intocado.




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