quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sou Isadora Rola, fui expulsa do feminismo por defender a heterossexualidade

Eu entrei em um grupo feminista aos 16 anos. Eu sempre amei os meus pais e os meus irmãos e tive um bom relacionamento com eles, mas quando eu estava no Ensino Médio eu percebia como os babaquinhas do colégio falavam das moças que tinham vida sexual. Isso e outras coisas que não me lembro mais me fizeram entrar no feminismo. As moças no começo me receberam bem, mas eu tive alguns episódios chatos no grupo.

Episódio 1

Eu disse em uma conferência, na parte de perguntas e respostas:

- Por que a gente fala de diversidade sexual mas só defende o lesbianismo?

- Temos muitas mulheres heterossexuais no feminismo, que são muito bem vindas.

Eu nem esperei a palestrante terminar.

- É só isso? E nós podemos cantar um homem na rua sem problema nenhum?

- Claro que não, o machismo da sociedade nos impede de fazer isso.

- Igual impede o lesbianismo?

O resto foi só desconversa.

Episódio 2

Eu ainda estava no Ensino Médio. Eu tinha feito 17 anos na semana anterior e peguei quatro revistas de sexo explícito emprestadas de um dos meus irmãos. Eu tinha dois grandes amigos homens no colégio. Nós três não tivemos a última aula, fomos para uma sala vazia e ficamos vendo o material. Uma colega nossa viu, chamou a orientadora e nós três tivemos de assinar um termo de ocorrência. Só não chamaram os nossos pais (e os rapazes eram mais novos que eu) porque eu assumi tudo e o pessoal da escola gostava de mim.

E o que as amigas do grupo feminista fizeram? Deram outra bronca. E o dia foi logo depois de um caso de uma mocinha de 25 anos casada com um homem de 50 que traiu o marido, a cena foi filmada por uma câmera escondida e o marido espalhou o vídeo. Quando eu ia começar a falar...

- Você quer comparar um homem machista reprimindo a sexualidade feminina com uma menor de idade ver revista pornográfica com dois meninos no colégio?

Episódio 3

Eu já na estudando em uma universidade federal e estava em um debate sobre violência contra a mulher. Alguém falou sobre a prostituição. Eu nunca tive nada contra a prostituição em si, estava até pensando em experimentar a coisa (só tomando cuidado com os maus clientes). Eu comentei:

- Gente, alguém lembrou que 70% dos assassinatos de mulher foram casos de violência doméstica. Se a prostituição é agressão contra a mulher, um homem pedir uma mulher em namoro é tentativa de homicídio.

No auditório tinha um rapaz chamado Silvio e um outro chamado Erik, um ex-bonzinho, que deram uma risada. Uma das senhoras que estava conduzindo o debate disse.

- Se alguém entendeu a graça, por favor me explique.

Episódio 4

Reunião com uma liderança estadual.

- Se o machismo também faz mal para os homens, por que a gente não deixa os rapazes que simpatizam com a gente participar dos nossos eventos?

- Porque o movimento é das mulheres.

- Então me esclareça: o homem vai ser sempre inimigo ou vai ser submisso à mulher?

- Eu não disse isso.

- Então esclareça: a luta é contra o machismo, é contra o homem ou uma coisa leva à outra?

Nem vale a pena contar a resposta.

Episódio 5

Eu estava em uma roda em uma lanchonete do campus. Uma das colegas disse que a pornografia aumenta os casos de estupro. Aí eu disse:

- Eu já assisti filme pornô com dois amigos homens, o filme era leve e a gente até brincou de imitar o filme. Tinha até chupadinha na buceta, que eu gosto muito. Não tendo agressão nem desrespeito eu até gosto de filme pornô.

E uma das amigas da conversa era colega de quarto do alojamento.

- Ah, então foi assim que você foi estudar Introdução à Lógica no mês passado, né?

- Não, isso foi quando eu tinha 15 anos.

- Você é louca?!

Eu ouvi tudo que o meu pai e a minha mãe não disseram quando ficaram sabendo o que aconteceu três dias depois.

Episódio 6

Já era o tempo do Facebook e eu já tinha me formado. Eu descobri pela internet o caso de uma professora que foi demitida porque tirou uma foto de biquíni e isso chegou na direção da escola. Na matéria, tinha o atalho para o caso de outra professora que gravou um vídeo para uma página pornô e também foi demitida. Compartilhei os dois casos no meu perfil. Todos os comentários e compartilhamentos foram de homens.

Poucos meses depois, todas as minhas amigas feministas estavam postando algo da Marcha das Vadias. Quando eu perguntei sobre o que elas achavam sobre aqueles casos que eu compartilhei, nenhuma respondeu e algumas me bloquearam.

Episódio 7

Eu estava em um evento sobre violência contra a mulher promovido pela prefeitura da cidade onde eu morava na época, que era de um partido de esquerda. Aí eu brinquei no corredor com um amigo homem:

- As colegas falam tanto de estupro que é mais fácil explicar o que não é estupro.

Aí, uma senhora que eu nunca vi mais gorda (no duplo sentido) apareceu do nada dizendo.

- Não é estupro quando a mulher quer. É difícil entender isso?

- É mais fácil de entender do que de ver.

- E você acha fácil a mulher demonstrar que está interessada em um homem sexualmente numa sociedade machista? Tente pra você ver.

Eu podia dizer que já tentei e geralmente dava certo. Mas o que eu pensei na hora foi outra coisa.

- Mas para se casar com OUTRA MULHER a gente faz protesto fechando avenida, né? E várias páginas antifeministas têm casos de mulheres que dão queixa de estupro semanas ou meses depois de relações consensuais. E aí?

Claro que a senhora não disse nada.

Episódio 8

Eu disse para algumas amigas do grupo feminista, no meu trabalho e no meu perfil no Facebook:

"Eu já vi vários homens dizendo, na internet e na vida real, que uma mulher não é pior porque transou com mais de um homem na vida e sem casamento, de uma certa forma é até o contrário. Mas nunca vi nenhuma mulher dizer isso. E o que é pior: a primeira coisa que uma mulher feminista diz sobre um homem que diz o que ela não gosta é que ele mesmo não tem uma vida sexual. Num caso desses, um amigo respondeu: você aceita dar pra mim? Tivemos que juntar eu e mais duas amigas para segurar a amiga para quem ele disse isso."

Episódio 9

Um dia eu fui chamada para uma reunião no movimento por não sei o quê. E o que eu ouço das líderes do grupo?

- Eu recebi a notícia de que você recebeu um rapaz na sua casa anteontem.

- Foram dois, chefe.

- Você ficou louca?! Você está desmoralizando o movimento!

- Que é isso, gente? Não teve nada de errado. Eles foram me fazer uma visita de amigo em casa.

- Mesmo assim! Essa simpatia toda é uma construção do machismo.

- Depois fizemos um sanduíche.

- Mas que coisa machista! Eles já devem ter ido achando que era sedução. Duas coisas que os homens veem nas mulheres: sexo e cozinha. Você recebe dois homens em casa e ainda vai pra cozinha para fazer sanduíches para eles.

- Não, para eles eu fiz um bolo de milho com queijo.

- Mas você não falou de sanduíche?

- Sim, mas o sanduíche foi entre nós três.

Engasgos. No dia seguinte, todo mundo me olhando torto e no dia seguinte eu pedi pra sair.

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Já fora do feminismo, eu criei um blogue de conteúdo contra o feminismo, contra o puritanismo, com fotos de mulher pelada e fotos e vídeos de sexo hétero, mas criticando os defeitos do universo masculino. E criei outro blogue para mulheres, contra o machismo e com foto de homem pelado, mas criticando os defeitos do universo feminino. No blogue para as mulheres, quase só homens, héteros e legais, e as mulheres geralmente eram feministas falando mal. No blogue para os homens,... também.

Abigail Pereira Aranha

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